A adolescência é uma fase de grandes transformações físicas, emocionais e sociais. Atualmente, esse processo tem sido impactado pela conectividade constante, e os números revelam esse impacto. No Brasil, a saúde mental de adolescentes e jovens tem se tornado uma preocupação crescente.
Ansiedade em alta entre jovens
De 2013 a 2023, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS registrou uma taxa de 125,8 casos de transtornos de ansiedade por 100 mil habitantes entre jovens de 10 a 14 anos. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, a taxa foi de 157 casos por 100 mil. Em comparação, entre adultos acima de 20 anos, a taxa foi menor, de 112 casos por 100 mil.
Além disso, um levantamento de 2024 da Ipsos revelou que 65% dos jovens de 18 a 24 anos relataram sintomas de ansiedade, e 19% da população brasileira declarou sofrer de depressão. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estima que 10% a 20% dos adolescentes de 10 a 19 anos no mundo enfrentam algum problema de saúde mental.
O impacto da internet e das redes sociais
Segundo o psiquiatra Rodrigo Eustáquio, da Afya Educação Médica de Vitória, o acesso constante à internet trouxe benefícios inegáveis, como informação e interação. No entanto, ele também aumentou os riscos de comparação social, isolamento e ansiedade. Por isso, é crucial que os adultos compreendam as particularidades desse período da vida e estejam preparados para acolher as demandas emocionais dos jovens.
O imediatismo e a busca por popularidade ou destaque nas redes sociais contribuem para o aumento da ansiedade. A distorção da imagem nas redes, onde apenas o ‘lado bom’ da vida é exposto, leva à comparação e à baixa autoestima, especialmente em jovens, que são mais vulneráveis e estão em processo de formação da personalidade. Por isso, a importância do acompanhamento de um adulto constantemente.
— Rodrigo Eustáquio, psiquiatra da Afya Educação Médica de Vitória
Sinais de alerta e a importância do diálogo
Rodrigo explica que sinais como mudanças bruscas de comportamento, queda no rendimento escolar, isolamento e alterações no sono e no apetite podem indicar sofrimento psíquico. Nesses casos, é preciso atenção imediata da família e de profissionais de saúde mental. Frequentemente, professores percebem primeiro essas mudanças, que, somadas a hábitos diferentes em casa, como insônia, sonolência excessiva ou perda de apetite, revelam um quadro preocupante.
Além disso, esses sintomas podem estar associados a transtornos como ansiedade e depressão, reforçando a importância de diálogo aberto entre família e escola para garantir apoio adequado ao jovem.
É preciso olhar com atenção e sem julgamento. Quanto antes o problema é identificado, maiores as chances de recuperação e qualidade de vida.
— Rodrigo Eustáquio, psiquiatra da Afya Educação Médica de Vitória
Estratégias para o bem-estar emocional
O psiquiatra também destaca que cuidar da saúde mental não se limita ao consultório, mas envolve práticas diárias. Sendo assim, uma rotina estruturada, sono regular, atividades físicas e limites no tempo de tela são medidas simples e eficazes para o equilíbrio emocional.
Pensando no ambiente familiar e escolar, o especialista recomenda estimular espaços de diálogo abertos. Os jovens precisam sentir que têm um lugar seguro para falar sobre suas angústias. Escutar é mais importante do que oferecer respostas prontas. Diante de um cenário em que a conectividade é inevitável, o desafio está em ajudar crianças e adolescentes a utilizar a tecnologia de forma equilibrada.
Por fim, Dr. Rodrigo ressalta que a questão do excesso de telas é um desafio para todas as faixas etárias, inclusive para os adultos.
O excesso de telas afeta a todos. No entanto, cabe aos adultos desempenhar o papel fundamental de orientar os mais jovens, mantendo um diálogo aberto, sem julgamentos, fortalecendo vínculos e ajudando a identificar precocemente sinais de sofrimento mental. Esse acompanhamento é essencial para promover hábitos de vida saudáveis e equilibrados.
— Rodrigo Eustáquio, psiquiatra da Afya Educação Médica de Vitória
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