Um estudo recente revelou que a crise da contaminação de bebidas alcoólicas por metanol no Brasil gerou um debate construtivo e responsável nas redes sociais. A análise da POLIS Consulting, realizada entre 25 de setembro e 5 de outubro, coletou dados de plataformas como Brandwatch, All Ears e Google Trends. Os números apontam para mais de 764 mil menções e 1,3 bilhão de visualizações, com cerca de 274 mil autores únicos de posts e conteúdos sobre os casos. Segundo o levantamento, plataformas de áudio e vídeo, como TikTok, YouTube e podcasts, foram os principais catalisadores dessa discussão. O sentimento predominante foi negativo (62%), refletindo o impacto emocional das notícias e relatos pessoais.
A evolução do debate sobre o metanol
Na análise de Lilian Carvalho, doutora em marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP, a preocupação geral do público contribuiu para que o debate deixasse de ser apenas reativo. Desse modo, a discussão passou a incluir soluções científicas e informativas, com papel ativo de veículos de comunicação e pesquisadores brasileiros.
Fala-se muito sobre a “velocidade da informação”, mas pouco sobre o tipo de sentimento e ação coletiva que crises como essa provocam. O estudo aponta que o clima predominante entre internautas é de receio, alerta e crítica, uma mobilização digital marcada pelo medo da compra de bebidas adulteradas, em especial gin, caipirinha e outros destilados. Podemos dizer que a cultura do risco e sensação de vulnerabilidade tornaram-se o grande lastro da opinião pública. O sentimento de indignação exige, de um lado, respostas rápidas das autoridades reguladoras, enquanto de outro aciona mecanismos de denúncia de ilegalidade e pressiona marcas a demonstrarem responsabilidade além do discurso superficial.
— Lilian Carvalho, doutora em marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP
As três etapas da discussão
Cronologicamente, o estudo mostra que o debate evoluiu em três etapas. Primeiramente, houve um momento de alerta e medo, marcado por picos de menções e grande viralização. Em seguida, ocorreu uma fase de busca por informação e respostas, com crescimento nas pesquisas e cobertura jornalística. Por fim, chegou-se a um estágio de reflexão e mudança de comportamento, com foco em conscientização e prevenção. Para os autores do levantamento, “mais do que um episódio de crise, o tema tornou-se um marco de aprendizado coletivo sobre consumo seguro, confiança nas marcas e responsabilidade pública na comunicação de riscos”.
O impacto da experiência pública
Lilian Carvalho acredita que a principal lição desse episódio está em reconhecer o novo lugar da experiência pública em tempos algorítmicos. Além disso, ela aponta para a necessidade de um pacto entre setor público, indústria e sociedade conectada.
Não estamos apenas diante de uma crise sanitária, mas de um “evento viral” que redefiniu patamares de exigência por accountability, qualidade e rastreabilidade em setores tradicionalmente opacos. A resposta não será apenas regulatória ou tecnológica, pois exige um pacto transversal entre setor público, indústria e sociedade conectada. O caso do metanol desafia tanto marcas quanto autoridades a operarem numa nova lógica de escuta, disposição ao diálogo e prontidão para ação.
— Lilian Carvalho, pesquisadora da FGV
Gin foi a bebida mais mencionada
Nas redes sociais e plataformas de áudio e vídeo, o gin concentrou 53,2% das menções, tornando-se o símbolo da discussão. Em seguida, a caipirinha representou 28,5% das menções, associada a conteúdos que misturam indignação e ironia. Já cervejas, vodka, whisky e o termo “destilados” mantiveram participação equilibrada (cerca de 18% cada), refletindo preocupações gerais sobre o consumo seguro. A curva de menções mostra que o tema evoluiu de um pico de crise para uma fase de conscientização coletiva, com destaque para discussões sobre comportamento e mudança de hábitos de consumo.
O pico de menções ocorreu em 30 de setembro, quando uma publicação informativa sobre a ação do metanol alcançou 7,5 milhões de pessoas, consolidando o tema como um dos mais debatidos do período.