Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser apenas um apoio para se consolidar como ferramenta estratégica. A grande questão agora não é se as empresas devem adotar a tecnologia, mas sim como fazê-lo. A resposta para essa pergunta é simples: cultura organizacional. Afinal, ela é o reflexo do propósito e dos valores definidos pela empresa, orientando comportamentos, decisões e práticas no dia a dia. É a cultura que molda o ambiente de trabalho e influencia a forma como as pessoas interagem. Além disso, garante que o uso da tecnologia esteja alinhado à identidade e aos objetivos da organização.
Vantagem competitiva e transformação do mercado
É fato que as empresas que investem em uma cultura organizacional voltada para a inovação ganham vantagem competitiva. Como já sabemos, a IA tem gerado uma grande transformação no mercado de trabalho. Ela influencia a dinâmica das empresas, a natureza das funções e as habilidades exigidas dos profissionais. Um estudo da McKinsey Global Institute aponta que a IA impacta o crescimento de diferentes setores da economia, otimizando processos, aumentando a produtividade e diminuindo tarefas repetitivas.
Além disso, a pesquisa estima que a tecnologia gerará US$13 trilhões para a economia mundial até 2030. Os benefícios trazidos pela IA nas empresas vão desde a automação de tarefas administrativas até a tomada de decisões com base em análises preditivas. No entanto, isso também exige uma requalificação de mão de obra e uma nova abordagem para a gestão de talentos, à medida que as funções tradicionais evoluem ou desaparecem.
Impacto da IA nos empregos
Segundo uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho, apenas uma pequena porcentagem dos empregos correm o risco de serem substituídos pela IA. Funções repetitivas e transacionais, suporte de primeira linha, processos administrativos, áreas criativas e geração de relatórios provavelmente serão automatizadas primeiro. No entanto, os trabalhos que permanecerão essencialmente humanos envolvem criatividade estratégica, julgamento ético, negociação, liderança e empatia.
Mesmo nessas áreas, surgem novas exigências: saber interpretar insights de IA, usar dados em tempo real para decidir e liderar times híbridos (humanos + agentes digitais). Apesar disso, a pesquisa também revela que novos cargos tendem a ser criados e o ganho em produtividade nos empregos restantes é significativo.
O papel da liderança na transição para a IA
De acordo com o relatório Future of Jobs 2023 do World Economic Forum, grande parte das companhias pretendem implementar inteligência artificial até 2027. Quando os colaboradores entendem como essas ferramentas são utilizadas, o receio de substituição tende a dar lugar ao aprendizado e à adaptação. Nesse cenário, o papel da liderança é fundamental. Os líderes precisam comunicar com clareza, oferecer espaço para experimentação e fomentar uma cultura de aprendizado contínuo. A confiança e a segurança psicológica tornam-se ativos estratégicos para atravessar essa transição.
Ainda que poderosa, a inteligência artificial não substitui a criatividade, a empatia e o julgamento crítico, atributos exclusivamente humanos. Como eu mencionei, o futuro do trabalho será híbrido, marcado pela colaboração entre pessoas e máquinas. Para que essa relação seja sustentável, a cultura organizacional deve reforçar o valor das soft skills, estimulando a adaptabilidade, a comunicação e a inteligência emocional. Essas competências serão cada vez mais determinantes para que profissionais se destaquem em ambientes onde a tecnologia já é protagonista.
O diferencial competitivo das empresas não estará na velocidade de adoção da tecnologia, e sim na forma como elas integram essa transformação ao cuidado com as pessoas.
— Giovanna Gregori Pinto, executiva de RH e fundadora da People Leap
O desafio que se coloca aos líderes é claro: não basta implementar ferramentas sofisticadas. É preciso preparar times, investir em desenvolvimento e cultivar uma cultura que enxergue a tecnologia como aliada, não como substituta. Afinal, são as pessoas, e não os algoritmos, que continuarão definindo o verdadeiro valor das organizações.