“Isso é sobre mim.” Quando uma história nos faz pensar isso, ela acerta em cheio. Porque não é sobre o produto — é sobre quem vai usá-lo. Sobre o que essa pessoa sente, acredita, vive e procura. É nesse ponto que as marcas verdadeiramente humanas se destacam. Não por gritar que são as melhores, mas por se atrever a contar histórias que tocam. Com verdade. Com propósito. Com alma.
A Mudança do Marketing: De Vender a Pertencer
Durante muito tempo, o marketing foi treinado para vender. Hoje, ele precisa pertencer. Parece uma mudança sutil, mas faz toda a diferença. Vender é convencer. Pertencer é conectar. E, com o excesso de informação e a carência de sentido, a conexão virou o ativo mais raro — e mais desejado.
A verdade é que as pessoas não querem apenas consumir. Elas querem se enxergar nas marcas que escolhem. Querem sentir que fazem parte de algo maior. Que não estão sozinhas no mundo. Uma pesquisa recente da Edelman mostrou que 64% dos consumidores preferem marcas que compartilham seus valores. O que isso nos diz? Que um bom storytelling não vende produto. Vende pertencimento. Vende identidade. Vende espelho.
A Autenticidade como Chave do Storytelling
Mas contar boas histórias dá trabalho. Não se trata de inventar enredos mirabolantes ou contratar um roteirista famoso. É mais simples — e mais difícil: é sobre olhar para dentro. Uma boa história corporativa nasce da escuta, da coragem de ser imperfeito, da disposição de lembrar que, por trás de cada logotipo, há gente. Se parecer “marketing demais”, desconecta na hora. Se for autêntica, toca. E, quando toca, transforma.
Toda história que marca carrega uma tensão. Um tropeço, uma dúvida, uma virada. Ou uma gargalhada inesperada. A vida é feita de altos e baixos, e o que nos prende a uma narrativa é justamente esse percurso. Quando uma marca tem coragem de mostrar as curvas do caminho, ela conquista mais que atenção — conquista afeto. Isso vale para multinacionais, vale para pequenas empresas. Storytelling não é sobre orçamento. É sobre intenção.
Além disso, não é preciso muito. Uma cafeteria pode emocionar ao contar por que decidiu abrir as portas. Uma marca de papel pode encantar ao mostrar quem são as mãos por trás da produção. Uma loja de bairro pode inspirar ao dividir os valores que guiam seu atendimento. O essencial não está no que se fala — mas no que se sente ao ouvir.
O Papel da Inteligência Artificial na Narrativa
E é nesse ponto que a inteligência artificial entra em cena. Ferramenta poderosa, capaz de analisar dados, ajustar mensagens, criar conteúdos com precisão. Mas também perigosa, se usada sem alma. O risco não é mais falar errado. É todo mundo começar a falar igual. Perder o sotaque, a pausa, o improviso — a humanidade. A IA pode montar o quebra-cabeça. Mas o coração da história ainda precisa vir de dentro. Porque a máquina até escreve, mas não sente o arrepio.
No fundo, tudo volta para o mesmo lugar: pessoas se conectam com pessoas. Compram de quem escuta. De quem representa. De quem emociona. E isso vale para startups, para empresas centenárias e até para aquele negócio de garagem que ninguém vê — mas que carrega uma boa história na alma. Como disse Simon Sinek:
“As pessoas não compram o que você faz. Elas compram por que você faz.”
— Simon Sinek, escritor e palestrante.
E eu completaria: elas não lembram o que você disse, lembram de como você as fez se sentir.
Com o excesso de informação e publicidade que nos bombardeia todos os dias e em todos os meios, quem vai se destacar é quem souber fazer sentir. Porque histórias bem contadas não vendem — transformam.
*Franciele Bayer é gerente de Marketing & Comunicação da BRW Suprimentos.