Servidores do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), estão visitando famílias afegãs que chegaram ao Brasil em 2025. O objetivo é avaliar e aprimorar o Programa de Reassentamento, Admissão e Acolhida Humanitária por Via Complementar e Patrocínio Comunitário (PRVC-PC), o programa brasileiro de patrocínio comunitário para pessoas afegãs.
Acolhimento e Integração
As visitas, realizadas em cidades do interior de São Paulo durante o mês de outubro, fazem parte do monitoramento do programa. A partir dessas visitas, busca-se entender o processo de integração dessas pessoas, o apoio fornecido por organizações da sociedade civil e identificar oportunidades de melhoria para os recém-chegados.
Lançado em 2024, o programa recebeu as primeiras famílias em abril de 2025. Até o momento, 282 pessoas foram acolhidas em 24 municípios, com o suporte de organizações como Panahgah, Estou Refugiado e MAIS. Em breve, Vila Minha Pátria e Rede Sem Fronteiras também darão suporte ao programa.
Grande parte dessas famílias é composta por crianças pequenas, incluindo recém-nascidos no Brasil. Além disso, o programa prioriza pessoas com deficiência, idosos, LGBTQIA+ e aqueles que enfrentaram perseguição política ou ameaças à vida no Afeganistão. Um exemplo é uma família de 11 pessoas em Americana (SP), que inclui uma gestante, um idoso e dois bebês.
Desafios e Superação
Essa família, que chegou ao Brasil em junho, recebe auxílio financeiro da organização apoiadora, conforme previsto no programa. Com esse valor, eles pagam o aluguel e se mantêm enquanto estudam português e procuram emprego. A integração socioeconômica é um dos maiores desafios enfrentados.
Apesar disso, o acesso rápido e gratuito a serviços de saúde, incluindo apoio à saúde mental, é um ponto positivo.
Eu e um de meus filhos fomos presos pelo Talibã por três meses. Aqui no Brasil, estamos recebendo ajuda psicológica para conseguir recomeçar.
— Uma das mulheres da família (identidade preservada por segurança)
O Papel das Organizações
A dificuldade em aprender o idioma é uma barreira constante para as famílias afegãs. Nesse contexto, as organizações patrocinadoras desempenham um papel crucial. São elas que apoiam a integração da população afegã nas cidades, facilitando o acesso a serviços essenciais como saúde, educação e programas assistenciais.
Entre as necessidades identificadas, destacam-se a presença de mediadores interculturais e o apoio à revalidação de diplomas. Muitos adultos das famílias visitadas têm ensino superior e desejam trabalhar em suas áreas de formação no Brasil.
Gostaria muito de trabalhar na mesma área que eu trabalhava no Afeganistão. Tenho formação e experiência. Mas minha prioridade aqui é conseguir um emprego que me pague um bom salário, para que eu consiga manter minha família.
— Afegão visitado em Americana
Próximos Passos
Os depoimentos coletados nas visitas serão utilizados para monitorar e avaliar o programa, buscando melhorias. Atualmente, quatro novas organizações da sociedade civil estão em processo de análise para se juntarem às cinco já habilitadas. Juntas, elas oferecem cerca de 1,5 mil vagas para acolher famílias afegãs em situação de risco.
As visitas de monitoramento continuarão nos próximos meses, expandindo-se para outros estados. O objetivo é fortalecer as estratégias de inclusão e acolhimento de refugiados e, futuramente, expandir o programa de patrocínio comunitário para outras nacionalidades.
O trabalho do ACNUR e as visitas de monitoramento são viabilizados com o apoio financeiro do Governo da Itália.