A busca por foco e rendimento tem levado jovens a usar psicoestimulantes como Venvanse e Ritalina, medicamentos indicados para TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), mesmo sem diagnóstico médico. Muitos relatam o uso para lidar com cansaço mental, aumentar a produtividade ou se sentirem mais inteligentes. Contudo, essa banalização do autodiagnóstico de TDAH preocupa especialistas.
O que está por trás da desatenção?
Guilherme Henderson, psicanalista e professor de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (CEUB), alerta que nem sempre o que se interpreta como TDAH corresponde a um transtorno mental. Segundo ele, é comum atender pacientes que se autodiagnosticaram após testes online ou vídeos nas redes sociais.
O que temos observado é um excesso de rótulos e uma busca por soluções imediatas para os desconfortos da vida cotidiana. Nesse cenário, o Venvanse passa a ser visto como um remédio para os ideais neoliberais de nossa época, e não como um tratamento médico específico.
— Guilherme Henderson, psicanalista e professor de Psicologia do CEUB
Henderson destaca que o diagnóstico clínico é complexo e deve ser feito por uma equipe especializada, seguindo critérios rigorosos. Além disso, muitos diagnósticos desconsideram o inconsciente.
Afinal, a distração é sintoma ou mensagem?
Esquecimentos, trocas de palavras e distrações podem ser manifestações do inconsciente, atos falhos com sentido, como explica o professor do CEUB. Nem sempre são falhas de atenção, mas mensagens cifradas.
Para ilustrar, Henderson cita um exemplo clínico: uma paciente troca palavras ao falar sobre ser “chefe do matrimônio da empresa”. Enquanto ela vê isso como TDAH, o analista pode interpretar uma mensagem sobre sua vida amorosa e o trabalho.
Medicalização do cotidiano: um risco a ser evitado
O psicanalista do CEUB ressalta que o TDAH é um transtorno que requer diagnóstico e acompanhamento, mas alerta para o risco de reduzir toda desatenção a uma patologia. Afinal, vivemos em uma sociedade acelerada, que valoriza a produtividade e o foco, criando um ambiente propício para que o desânimo ou a dificuldade de concentração sejam vistos como falhas.
Quando aceitamos olhar para nossos esquecimentos e distrações como mensagens do inconsciente, e não apenas como erros cerebrais, abrimos espaço para uma transformação mais profunda. Talvez o que chamamos de TDAH, em muitos casos, seja apenas a forma que o inconsciente encontrou para nos lembrar de algo que não queremos escutar.
— Guilherme Henderson, psicanalista e professor de Psicologia do CEUB
Henderson finaliza dizendo que, se a psicanálise nos lembra que encontramos aí as vias dos nossos desejos, a sociedade está sedenta por isso.






