Inteligência artificial (IA) impõe ao Brasil a escolha do seu futuro energético. O avanço da IA amplia o consumo global de energia. Países como EUA e União Europeia já buscam criar data centers sustentáveis para liderar essa transição. O Brasil, com uma matriz elétrica limpa, poderia transformar essa vantagem em protagonismo tecnológico. No entanto, a falta de estratégia e regulação ameaça essa oportunidade, como explica Franklin Tomich, fundador da Accordia.
Brasil pode criar polo de data centers verdes
Criar um polo nacional de data centers verdes geraria empregos qualificados, atrairia P&D e exportaria serviços digitais, em vez de apenas energia. A inteligência artificial cresce rápido, mas o debate sobre seu impacto energético ainda é tímido no Brasil.
A tecnologia exige volumes colossais de eletricidade e água no treinamento e operação de modelos, pressionando países despreparados. A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que data centers consomem 415 TWh/ano, 1,5% da eletricidade mundial, podendo dobrar até 2030. Cada consulta a sistemas de IA gera um gasto invisível de energia e recursos.
Vantagem estratégica e ausência de planejamento
O Brasil poderia transformar esse cenário em vantagem estratégica, já que mais de 80% de sua matriz elétrica vem de fontes renováveis, segundo o Ministério de Minas e Energia. Tal patamar é superior ao de países industrializados dependentes de carvão e gás. Isso deveria colocar o país na liderança da construção de um polo global de data centers sustentáveis.
No entanto, observa-se ausência de planejamento estratégico e de políticas públicas claras para aproveitar essa posição. A oportunidade de unir inovação e sustentabilidade pode se perder na agenda nacional.
Ações globais e atraso brasileiro
Enquanto o Brasil hesita, outras economias já se movem. A União Europeia quer data centers neutros em carbono até 2030, dentro do European Green Deal. Nos EUA, estados como Virgínia e Oregon estruturaram clusters de data centers atrelados a energia renovável, atraindo investimentos bilionários com incentivos fiscais. Países como Irlanda e Países Baixos adotaram regras rígidas de eficiência para evitar sobrecargas, pressionados pelo aumento do consumo. Esse contraste expõe o atraso brasileiro e evidencia que a janela de oportunidade não ficará aberta por muito tempo.
Marcos regulatórios e descentralização
O Brasil poderia criar marcos regulatórios que estabeleçam padrões de eficiência energética, condicionando licenças à adoção de fontes renováveis adicionais e incentivando a descentralização de data centers em regiões com maior potencial solar e eólico. Tais medidas diminuiriam os riscos de sobrecarga nas hidrelétricas e fortaleceriam cadeias produtivas locais, ampliando a infraestrutura digital do país, tornando-o mais resiliente e competitivo.
Benefícios de um polo sustentável
Além da energia, um polo de data centers sustentáveis geraria empregos qualificados em engenharia, tecnologia e cibersegurança, atraindo centros globais de P&D, e posicionando o Brasil como exportador de serviços digitais, agregando valor à economia e reduzindo a dependência de tecnologia e infraestrutura estrangeira. Seria uma oportunidade de transformar inovação e sustentabilidade em vantagem estratégica, com impactos positivos de longo prazo para o país.
Encruzilhada e liderança global
Estamos diante de uma encruzilhada: o Brasil pode se consolidar como referência em tecnologia limpa, unindo sua matriz renovável a políticas públicas de inovação, ou repetir o padrão histórico de exportar recursos naturais e importar valor agregado. O custo energético da inteligência artificial é concreto e crescente, e ignorá-lo significa abdicar de uma liderança global que está ao alcance, uma liderança que poderia redefinir o papel do país na economia digital mundial.
O Brasil pode se consolidar como referência em tecnologia limpa, unindo sua matriz renovável a políticas públicas de inovação, ou repetir o padrão histórico de exportar recursos naturais e importar valor agregado.
— Franklin Tomich, fundador da Accordia






