Em meio ao crescente debate sobre Inteligência Artificial (IA), surge uma questão filosófica: será que a IA é realmente inteligente, ou estamos mudando nossa forma de pensar e criar? O escritor Roberto T. G. Rodrigues explora essa temática, estabelecendo um paralelo entre o comportamento das IAs generativas e o processo criativo humano.
Afinal, o que é inteligência?
Rodrigues inicia o artigo desmistificando a ideia de que a IA pensa ou tem consciência. Segundo ele, o que chamamos de “inteligência” é, na verdade, aprendizado de máquina. Ou seja, um programa que observa padrões e repete comportamentos.
Para ilustrar, o autor utiliza uma analogia com eletrodomésticos que aprendem a rotina de uma pessoa. “Se seus eletrodomésticos fossem uma IA, fariam isso sozinhos. Não por mágica. Mas porque aprenderam o seu hábito”, explica Rodrigues.
Nesse sentido, as IAs seriam grandes dicionários vivos, treinados com vastas quantidades de textos, livros, artigos, músicas e imagens, que reorganizam o que já existe e devolvem em uma nova forma.
A criatividade humana em xeque?
A partir dessa premissa, o autor lança uma provocação: se um escritor lê dezenas de livros e cria sua própria história, não estaria fazendo o mesmo que a IA? Afinal, a mente humana também mistura lembranças, sons e imagens para gerar algo “novo”.
Essa dúvida, segundo Rodrigues, não é recente. A literatura e o cinema já a exploram há décadas, como exemplificado em obras como 2001: Uma Odisseia no Espaço, Blade Runner, Matrix e Westworld.
Em 2001, o computador HAL 9000 é capaz de “pensar”, mas seu raciocínio é puramente lógico, sem empatia. Já em Blade Runner, as máquinas choram e amam, confundindo os limites entre humano e artificial. Enquanto isso, em Matrix, os humanos se tornam peças dentro do próprio sistema que criaram, e em Westworld, as máquinas começam a sonhar.
O que a IA faz conosco?
A ficção científica, portanto, sempre alertou que a questão central não é “o que a IA pode fazer”, mas “o que ela faz conosco”. Rodrigues argumenta que, ao terceirizarmos decisões para algoritmos, abrimos mão de parte de nossa autonomia.
Uma pesquisa da Writer’s Guild americana revelou que mais de 60% dos roteiristas e autores já utilizam IA em alguma etapa do processo criativo. O próprio Rodrigues admite recorrer a ela para revisar textos ou testar novas ideias.
Talvez a pergunta certa não seja se a IA é inteligente. Talvez devêssemos perguntar se nós ainda estamos sendo criativos o suficiente para continuar merecendo esse título.
— Roberto T. G. Rodrigues, escritor
O poder da imaginação
A IA pode reorganizar padrões, mas ainda não constrói mundos. E é exatamente aí que reside o poder humano: imaginar o que ainda não existe. Afinal, a criatividade é a chave para a inovação e o progresso.






