O número de pedidos de falência no Brasil teve um aumento de 18,9% no primeiro semestre de 2025, conforme dados da Serasa Experian. Este é o maior índice desde 2020. O avanço é resultado direto da retração do consumo, do crédito caro e da falta de preparo financeiro das empresas, especialmente as de pequeno e médio porte.
Para o advogado e contador Marcos Pelozato, especialista em reestruturação empresarial, “as companhias que atravessam crises sem um plano de gestão estruturado acabam reféns da própria desorganização”.
Medidas essenciais para a saúde financeira
De acordo com o especialista, cinco medidas podem fazer a diferença entre a recuperação e o colapso de uma empresa: planejar o fluxo de caixa, negociar contratos, adequar dívidas, cortar despesas de forma seletiva e manter controle rigoroso sobre os indicadores financeiros. Pelozato enfatiza a importância da prevenção.
“A crise não avisa quando chega, por isso a empresa precisa operar como se estivesse permanentemente em modo preventivo. As decisões devem ser técnicas, e não emocionais”, afirma.
Planejamento do fluxo de caixa
O primeiro passo, segundo Pelozato, é o planejamento do fluxo de caixa, que permite identificar entradas e saídas com antecedência. Ele descreve essa prática como essencial para a sobrevivência.
“É o mapa da sobrevivência. Sem esse controle, o gestor não enxerga o prazo de fôlego que tem nem o ponto exato em que o caixa ficará negativo”, explica.
Renegociação de contratos
O segundo ponto é renegociar contratos e obrigações, incluindo fornecedores, bancos e parceiros comerciais. Muitos contratos podem ser readequados, mas poucos empresários procuram orientação técnica antes de se endividar, complementa o especialista.
Adequação de dívidas
A terceira medida envolve a readequação de dívidas, etapa que deve ser acompanhada de uma avaliação detalhada da estrutura societária e dos custos tributários. Dados do IBGE mostram que mais de 60% das empresas brasileiras operam com margem de lucro inferior a 10%, cenário que exige reestruturação constante.
O endividamento não é o problema; o problema é a ausência de estratégia para administrá-lo.
— Marcos Pelozato, advogado e contador
Corte seletivo de despesas
O quarto passo é o corte seletivo de despesas, que exige análise racional sobre quais custos realmente geram retorno. Cortar tudo de forma aleatória é tão perigoso quanto não cortar nada, ressalta o especialista. Há gastos que sustentam a operação e que, se eliminados, podem comprometer a receita futura.
Governança de dados financeiros
Por fim, o quinto ponto é a governança de dados financeiros, isto é, acompanhar mensalmente indicadores como margem, inadimplência e rentabilidade.
A importância da ajuda especializada
Para o advogado, o maior desafio é cultural. “Ainda existe resistência em buscar ajuda especializada. Muitos empresários tratam a mentoria e a consultoria como custo, quando na verdade são investimentos que evitam prejuízos maiores”, observa.
Pesquisas do Sebrae indicam que apenas 6% dos empreendedores buscaram orientação profissional em 2024 e que 70% das empresas que encerraram as atividades nunca haviam recebido capacitação ou assessoria de gestão.
Na avaliação de Pelozato, 2026 deve continuar marcado por juros elevados e crescimento lento, o que exigirá disciplina e planejamento das empresas brasileiras. “Quem entender a gestão como ferramenta de proteção e não como burocracia terá mais chances de permanecer competitivo”, conclui.






