Recentes casos de crise empresarial expõem a falta de preparação dos gestores brasileiros. O cenário empresarial brasileiro enfrenta uma nova onda de instabilidade. Dados da Serasa Experian indicam um aumento de 18,9% nos pedidos de falência no primeiro semestre de 2025, o maior índice desde 2020. Esse aumento é impulsionado por empresas do comércio e da indústria, refletindo a vulnerabilidade de grandes grupos que, a exemplo da Magnífica, enfrentam crises de liquidez e buscam reestruturação judicial para sobreviver.
Falta de gestão preventiva
Para Marcos Pelozato, advogado, contador e especialista em reestruturação empresarial com 14 anos de experiência, esses episódios revelam um problema estrutural: a falta de gestão preventiva no país.
A atuação preventiva ainda é vista como gasto, quando na verdade é investimento. Mapear riscos e reorganizar a empresa antes da crise é o que garante a continuidade dos negócios — afirma Pelozato.
Além disso, um levantamento do Sebrae revelou que apenas 6% dos donos de micro e pequenas empresas buscaram consultoria ou mentoria em 2024, mesmo diante de um ambiente econômico adverso. O dado confirma uma cultura empresarial que prioriza decisões intuitivas e adia medidas estruturais. O empresário brasileiro ainda tem dificuldade em agir antes da crise.
Ele procura ajuda apenas quando o passivo já se tornou insustentável, e isso limita as chances de recuperação — reforça Pelozato.
Grandes empresas também sofrem
Os casos recentes de companhias listadas na B3, como Gol, Azul e Oi, que recorreram à Justiça para reestruturar dívidas, mostram que nem grandes grupos estão imunes ao problema.
Falta orientação técnica qualificada. Muitos gestores não conhecem as ferramentas legais disponíveis, como a mediação com credores ou a reorganização societária, que poderiam evitar a falência — analisa o especialista.
Formação profissional deficitária
A falta de preparo não se restringe aos empresários. Um levantamento da FGV e do CIEE apontou que apenas 12% dos cursos de Direito e Contabilidade no Brasil incluem disciplinas práticas sobre gestão de crise e recuperação judicial. Para Pelozato, isso explica parte do gargalo no mercado.
Sem formação prática, os profissionais não conseguem orientar adequadamente os clientes. Isso perpetua a cultura do improviso — diz.
Lições e perspectivas
Com juros elevados, crédito restrito e margens reduzidas, empresas médias e pequenas têm sido as mais afetadas. O IBGE aponta que 60% delas operam com lucro inferior a 10%, o que as torna vulneráveis a qualquer imprevisto fiscal ou financeiro.
Para o especialista, a principal lição dos recentes colapsos empresariais é clara.
As crises não surgem da noite para o dia, mas da falta de gestão. Quem se antecipa sobrevive; quem ignora os sinais, fecha as portas — conclui.






