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EUA e Brasil: Mobilidade internacional expõe impacto de políticas

EUA e Brasil: Mobilidade internacional expõe impacto de políticas

As tensões diplomáticas recentes entre Brasil e Estados Unidos, após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump em Kuala Lumpur, trouxeram a mobilidade internacional para o centro do debate econômico. As novas tarifas americanas e as discussões sobre acordos comerciais reacenderam preocupações entre empresas e investidores brasileiros, que dependem da transferência de profissionais e da manutenção de operações nos Estados Unidos.

Restrições migratórias nos EUA impactam trabalhadores estrangeiros

De acordo com dados do U.S. Bureau of Labor Statistics, o número de trabalhadores estrangeiros com vistos temporários nos Estados Unidos caiu 14% entre 2023 e 2025. Além disso, o Departamento de Estado reportou um aumento de 38% no tempo médio de análise de vistos de trabalho e investimento, incluindo categorias como H-1B (para profissionais qualificados) e EB-5 (para investidores). Essa tendência reflete o endurecimento das políticas migratórias promovidas pelo governo Trump, que voltou a priorizar contratações domésticas e revisar autorizações de permanência.

Para o advogado Daniel Toledo, especialista em Direito Internacional e fundador do escritório Toledo e Advogados Associados, a política de imigração americana deixou de ser apenas uma questão social e passou a ter peso estratégico para empresas multinacionais.

As decisões migratórias estão impactando diretamente o fluxo de talentos, os custos de realocação e o ritmo de expansão das empresas brasileiras nos Estados Unidos. Há um componente político claro nessas mudanças, que exige cautela e planejamento de longo prazo — Daniel Toledo, advogado.

Brasil busca alternativas e cooperações

Toledo explica que, enquanto as políticas de Trump reforçam o controle sobre vistos de trabalho e negócios, o governo brasileiro tenta ampliar o diálogo consular e garantir segurança jurídica para expatriados. “O Brasil vem adotando uma postura mais cooperativa, mas depende da reciprocidade americana. A reunião em Kuala Lumpur mostrou que o comércio e a imigração caminham juntos: tarifas, vistos e investimentos estão interligados”, avalia.

Impacto em empresas de tecnologia e startups

O impacto das restrições é sentido com mais força por empresas de tecnologia, startups e consultorias com sedes nos dois países. Segundo levantamento da Tech Nation Global Talent Report 2025, 62% das companhias latino-americanas com escritórios nos Estados Unidos relatam dificuldades em manter executivos estrangeiros por conta de atrasos e incertezas nos processos migratórios.

Essas barreiras geram um custo operacional alto. Cada dia de espera por um visto pode representar prejuízo para quem depende de decisões rápidas em mercados competitivos — Daniel Toledo, advogado.

Além do aumento no tempo de processamento, o governo americano vem endurecendo a análise de admissibilidade para categorias que antes eram amplamente aceitas. O advogado destaca o caso do visto L-1, destinado a executivos transferidos de empresas multinacionais. “Esse visto é essencial para a gestão de operações internacionais. No entanto, o rigor atual na comprovação de vínculo entre as matrizes e subsidiárias tem dificultado aprovações. Isso acaba desestimulando o investimento direto estrangeiro e enfraquece a presença de empresas brasileiras no mercado americano”, observa.

Brasil como destino estratégico

O Brasil, por outro lado, tenta ocupar um espaço mais relevante no fluxo global de talentos. Dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) indicam que, em 2024, o país recebeu cerca de 110 mil trabalhadores estrangeiros, um aumento de 25% em relação ao ano anterior. A política de atração de profissionais qualificados e a ampliação de acordos bilaterais de residência têm sido usadas como contraponto à rigidez americana.

Para Toledo, o contraste entre as políticas migratórias dos dois países representa tanto um desafio quanto uma oportunidade. “Enquanto os Estados Unidos elevam barreiras, o Brasil pode se tornar uma alternativa estratégica para multinacionais que buscam ambientes regulatórios mais previsíveis. Isso vale principalmente para setores como tecnologia, energia e finanças, onde a mobilidade internacional é determinante para a inovação”, analisa.

Estratégias de mitigação para empresas brasileiras

As empresas brasileiras que já atuam em território americano também têm adotado estratégias de mitigação. Segundo o Brazil-U.S. Business Council, há um crescimento de 18% na contratação de advogados e consultores especializados em imigração corporativa. O objetivo é reduzir riscos jurídicos e antecipar mudanças regulatórias. “As organizações estão percebendo que imigração é, hoje, uma questão de governança. Não se trata apenas de trazer um colaborador, mas de compreender um cenário político em constante transformação”, explica o advogado.

O debate sobre mobilidade internacional, que antes ficava restrito a nichos técnicos, tornou-se parte da pauta macroeconômica entre Brasil e Estados Unidos. A reunião em Kuala Lumpur, segundo Toledo, evidencia essa nova dinâmica. “As tarifas e os vistos estão na mesma mesa de negociação. O tratamento dado à mobilidade humana é um termômetro da maturidade das relações bilaterais. E, neste momento, o desafio é encontrar um equilíbrio que preserve tanto a soberania quanto a liberdade de empreender e inovar”, conclui.

A expectativa do setor é de que novas rodadas de diálogo entre os dois governos avancem ainda neste trimestre, buscando conciliar interesses comerciais com a fluidez necessária à circulação de talentos e investimentos. Até lá, as empresas brasileiras continuarão operando sob um cenário que mistura prudência e oportunidade, na tentativa de manter o sonho americano viável, agora com muito mais estratégia e planejamento jurídico.

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