No seriado ‘Tremembé: A Prisão dos Famosos’, a atuação de Marina Ruy Barbosa como Suzane von Richthofen tem chamado a atenção. O psicanalista, escritor e professor universitário Francisco Neto Pereira Pinto analisa a performance da atriz, destacando como ela rompe com estereótipos e oferece uma leitura inédita e complexa da personagem.
A Surpresa Inicial e o Desinteresse
Inicialmente, a série documental ficcional ‘Tremembé’ não despertou interesse no analista. A vasta exploração do tema pela mídia e pelo audiovisual brasileiro gerava ceticismo quanto à promessa de um novo ângulo sobre a tragédia. Contudo, o rápido sucesso da série na Prime Video despertou sua curiosidade.
Uma Atuação Refrescante e Complexa
Para Francisco, que não acompanhou os trabalhos de Marina em telenovelas, a performance da atriz surge sem filtros de memória afetiva ou preconceito. Essa distância permitiu que ele se rendesse à complexidade que Marina imprimiu à personagem. A grandeza de sua Suzane reside em evitar leituras estáticas e simplistas, como a da “menina rica mimada” ou da “psicopata fria”.
Além disso, a Suzane de Ruy Barbosa ganha matizes, densidade e complexidade, mostrando-se vulnerável e perversa simultaneamente. Ela demonstra medo e ansiedade, mas também uma frieza calculista e estratégica. Não há tentativa de imprimir o verniz de vítima ou de monstro sem alma. A personagem é uma teia de ambiguidades que instiga a curiosidade a cada cena.
A Sutileza da Construção
O mais notável é a sutileza da construção da personagem. Marina não apela à espetacularização, mas oferece uma performance feita de camadas: um gesto, um olhar, uma expressão. O cinismo, por exemplo, não é um cartão de visitas, mas uma marca que se constrói lentamente ao longo da temporada, sem jamais sequestrar por completo a humanidade da personagem.
Uma Figura Inédita
A Suzane que emerge de ‘Tremembé’ é uma figura inédita. Talvez por não se preocupar em responder quem é a verdadeira Suzane Von Richthofen, a atuação de Marina Ruy Barbosa recria a narrativa que há mais de duas décadas alimenta o imaginário brasileiro. Ela ensina que a tarefa da arte não é capturar a vida em sua literalidade, mas transfigurá-la, renovando nosso olhar e tornando a vida mais instigante e vibrante.
Francisco Neto Pereira Pinto conclui que, como toda boa obra de arte, a performance de Marina Ruy Barbosa desafia o pensamento crítico a se movimentar, convidando-nos a falar, mas sem a pretensão de nunca se esgotar.
A atuação de Marina Ruy Barbosa refunda a narrativa de Suzane von Richthofen, mostrando que a arte não precisa capturar a vida em sua literalidade, mas sim transfigurá-la para renovar nosso olhar. — Francisco Neto Pereira Pinto, psicanalista, escritor e professor universitário.






