O Brasil exportou 377 milhões de toneladas de minério de ferro em 2024, consolidando-se como o segundo maior produtor mundial. A mineração responde por 4% do PIB nacional, e o minério de ferro é o segundo produto mais exportado pelo país. Apesar disso, o Brasil continua dependente da importação de insumos estratégicos como ímãs de neodímio e terras raras, fundamentais para setores como mobilidade elétrica, energia renovável, saúde e tecnologia.
A dependência de importações
Enquanto exportamos toneladas de minério bruto, compramos de volta tecnologia cara e produtos de alto valor agregado. O mesmo ocorre com o aço: estamos entre os dez maiores produtores mundiais, mas ficamos restritos ao aço bruto, sem protagonismo nos aços especiais e de alta performance.
A discrepância entre o que produzimos e o que realmente aproveitamos internamente é uma oportunidade perdida. O minério sai daqui em navios, mas a tecnologia volta muito mais cara. É hora de pensarmos em protagonismo, não apenas em exportação.
— Rodolfo Midea, CEO da Fácil Negócio Importação
Diante das projeções da Agência Internacional de Energia, que apontam que a demanda global por minerais críticos deve dobrar até 2040, o debate ganha ainda mais relevância.
O paradoxo do aço
O paradoxo se repete também no setor do aço. Apesar de o Brasil estar entre os dez maiores produtores mundiais, com destaque para o aço bruto, ainda não ocupa lugar de relevância na produção de ligas especiais e aços de alta performance, indispensáveis para a indústria automotiva, aeronáutica e de energia.
A World Steel Association mostra que, em 2023, a China respondeu por mais de 50% da produção mundial de aço, com forte participação em materiais voltados à inovação tecnológica, enquanto o Brasil manteve seu perfil concentrado em exportação de produtos básicos. Essa lacuna impede o país de capturar parte do valor que gera e transfere às economias que, além de comprar o minério, o transformam em tecnologia de ponta.
Pressão por mudança
A pressão por mudança tende a crescer. A Agência Internacional de Energia (IEA) projeta que a demanda global por minerais críticos, incluindo terras raras, deve dobrar até 2040, impulsionada principalmente pela transição energética e pelo crescimento dos carros elétricos.
O mercado de ímãs de neodímio, em particular, deve ultrapassar US$ 3,3 bilhões até 2030, segundo dados da Fortune Business Insights. Esse cenário reforça que não basta ser fornecedor de matéria-prima: os países que agregarem valor terão vantagem competitiva na economia verde e digital.
No ritmo atual, continuaremos assistindo a outros países agregarem valor ao minério que exportamos. O desafio é transformar essa riqueza em inovação local. Precisamos evoluir na cadeia de transformação industrial para que o Brasil não seja apenas fornecedor de matéria-prima, mas também um hub de tecnologia.
— Rodolfo Midea, CEO da Fácil Negócio Importação
Caminhos para o futuro
Para especialistas, o caminho passa por políticas industriais mais consistentes, investimentos em pesquisa aplicada e incentivos à produção local de insumos de maior valor. A redução da burocracia e da bitributação na importação de equipamentos estratégicos também aparece como medida urgente, já que a complexidade tributária encarece o processo e desestimula empresas que poderiam investir em inovação no Brasil.
Além disso, o tema exige maior integração entre governo, indústria e academia, criando um ecossistema que permita ao país avançar além da mineração e da exportação bruta.
A discrepância entre o que o Brasil produz e o que aproveita internamente é, portanto, mais do que uma estatística: trata-se de um entrave estrutural que compromete o protagonismo do país no século XXI. Enquanto seguimos despachando minério em navios, outros países concentram os ganhos de produtividade, inovação e valor agregado.
A oportunidade de mudar esse cenário existe, mas exige visão estratégica, planejamento de longo prazo e coragem política para transformar a abundância mineral em motor de desenvolvimento tecnológico e industrial.






