A morte do cantor e compositor D’Angelo, aos 51 anos, reacendeu um alerta importante sobre o câncer de pâncreas, uma doença silenciosa e de difícil diagnóstico. Considerado um dos maiores nomes do R&B contemporâneo, o artista manteve seu tratamento em sigilo, o que reforça a importância da conscientização e do diagnóstico precoce.
O oncologista Mauro Donadio, da Oncoclínicas, explica as principais causas, sintomas e avanços no tratamento dessa doença, que segue como um dos maiores desafios da medicina moderna.
Entenda a doença
O pâncreas é um órgão fundamental no processo digestivo e no controle da glicemia. A maioria dos tumores malignos nesta região é classificada como adenocarcinoma, originado na parte exócrina do órgão, responsável por cerca de 90% dos casos.
O câncer de pâncreas costuma ser diagnosticado tardiamente porque seus sintomas iniciais são inespecíficos ou ausentes. Isso dificulta o tratamento e impacta negativamente as taxas de sobrevida.
— Mauro Donadio, oncologista da Oncoclínicas
Fatores de risco e sintomas do câncer de pâncreas
Entre os principais fatores de risco estão o tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade, pancreatite crônica, diabetes mellitus e histórico familiar da doença. Segundo o especialista, é possível agir preventivamente em alguns desses pontos.
A obesidade, por exemplo, é um fator modificável. Estudos mostram que a perda de apenas 10% do peso corporal já reduz consideravelmente o risco de desenvolver vários tipos de câncer, inclusive o de pâncreas.
— Mauro Donadio, oncologista da Oncoclínicas
Nos casos mais avançados, podem surgir sintomas como dor abdominal ou lombar, perda de peso, fraqueza, icterícia (olhos ou pele amarelados), urina escura, náuseas, trombose venosa profunda e agravamento súbito de um diabetes pré-existente.
Atenção ao diabetes
Em pessoas com diabetes, Mauro Donadio comenta que cerca de 80% dos pacientes com câncer pancreático apresentam intolerância à glicose ou diabetes no momento do diagnóstico. Hoje, sabemos que há uma via de mão dupla: o câncer pode induzir alterações metabólicas que levam ao desenvolvimento de diabetes, mas também há evidências de que a resistência à insulina e o próprio diabetes tipo 2, especialmente quando mal controlado, podem aumentar o risco de surgimento do tumor. Essa conexão reforça a necessidade de atenção especial nesse grupo, sobretudo quando há mudanças súbitas no controle glicêmico.
Diagnóstico e tratamento do câncer de pâncreas
A identificação precoce é um dos maiores desafios. Estima-se que apenas 10% a 15% dos casos são descobertos em estágio inicial. O diagnóstico inclui exames laboratoriais, de imagem (como tomografia e ressonância) e, em alguns casos, biópsia.
Quando conseguimos detectar o tumor em fase inicial e restrita ao pâncreas, a chance de sucesso no tratamento aumenta significativamente.
— Mauro Donadio, oncologista da Oncoclínicas
O tratamento geralmente envolve cirurgia e quimioterapia. Em casos selecionados, a ordem tradicional é invertida: primeiro o paciente realiza a quimioterapia e depois é submetido à cirurgia.
Essa abordagem tem demonstrado bons resultados. Ao reduzir o tumor com a quimioterapia, conseguimos facilitar a cirurgia e, muitas vezes, melhorar o prognóstico do paciente.
— Mauro Donadio, oncologista da Oncoclínicas
Avanços e perspectivas no tratamento
Apesar de ser uma doença desafiadora, os avanços em medicina personalizada e genética têm mudado o cenário. Além disso, a oncologia tem evoluído rapidamente. Com a identificação de subtipos moleculares do câncer de pâncreas, conseguimos desenvolver terapias mais específicas e direcionadas. O futuro da oncologia pancreática é promissor, finaliza o oncologista.






