Com o comércio global em desaceleração e o câmbio volátil, o Brasil registrou alta de 8,3% nas importações no primeiro semestre de 2025, segundo a AEB. Este cenário complexo exige atenção redobrada das empresas.
Planejamento cambial e revisão de contratos: a chave para o sucesso
O especialista em comércio exterior Thiago Oliveira, CEO da Saygo, afirma que o momento exige planejamento cambial e revisão de contratos. Ele recomenda três ajustes imediatos para mitigar riscos e aproveitar oportunidades.
Ajustes imediatos para importadores
- Contratar em múltiplas moedas: diversificar as moedas de contratação.
- Revisar Incoterms e seguros: atualizar os termos de compra e apólices de seguro.
- Reforçar o compliance documental: garantir a conformidade da documentação.
“Quem tratar importação como estratégia, e não só como compra, entra em 2026 com vantagem competitiva”, destaca Oliveira.
Panorama setorial das importações brasileiras
De acordo com Oliveira, alguns setores se destacam nas importações brasileiras. A recomposição de estoques no Sudeste Asiático e China impulsiona o setor de tecnologia, enquanto Taiwan e Coreia do Sul se mostram estratégicos em semicondutores.
Na área da saúde, a Europa é referência em dispositivos médicos, enquanto Índia e China se destacam em genéricos e APIs. Para insumos industriais, a União Europeia e o Leste Europeu avançam em químicos e máquinas, enquanto a Ásia se mantém competitiva em aços e autopeças.
Já nos bens de consumo, a Ásia lidera em eletrônicos e eletroportáteis, enquanto a Europa ganha espaço em nichos premium. Índia, Vietnã e Turquia crescem em vestuário e calçados.
O impacto do câmbio e das tarifas no comércio exterior
O Banco Mundial já alertava para a perda de tração do comércio e para a sensibilidade do PIB global a novas barreiras. A OMC estima que tarifas adicionais e maior incerteza de política comercial podem derrubar ainda mais o volume de trocas neste ano.
No Brasil, a CNI registra impacto do “tarifazo” dos EUA e aumento expressivo das importações de manufaturados no primeiro semestre. Este cenário indica que as compras externas seguem como válvula de competitividade e de pressão para a indústria.
“O ano de 2025 exigiu um playbook de importação com cláusulas de flexibilidade cambial e hedge programado. Sem política de câmbio, fica impossível precificar o estoque. O importador que sincroniza janela de fechamento com embarque e prazo de nacionalização evita que o dólar coma a margem antes da mercadoria chegar”, explica Oliveira.
Três movimentos práticos para otimizar as importações
Segundo o CEO da Saygo, existem três movimentos práticos que precisam ser feitos para os próximos meses:
- Contratar em múltiplas moedas: priorizar a divisão entre dólar e euro conforme a origem, com gatilhos de recompra ao término para evitar chamadas de caixa.
- Rever Incoterms e seguros: em rotas asiáticas, avaliar CIF com seguradoras globais e exigir cobertura de greve/atos políticos; em compras europeias, negociar DAP com integradores que ofereçam rastreamento ESG.
- Apertar o compliance documental: erros em classificação fiscal, origem e packing list seguem entre os maiores geradores de custo e atraso; digitalizar o dossiê e padronizar a conferência evita multas e paralisações.
Com o comércio global fraco e tarifas reordenando cadeias, o Brasil tende a fechar 2025 com importações sustentadas por nichos: tecnologia (componentes), saúde (dispositivos e APIs), insumos industriais (químicos, metálicos) e consumo (eletrônicos e lifestyle).
“A recomposição virá menos pelo volume generalizado e mais por compras direcionadas em novas origens, ancoradas em contratos cambiais bem estruturados. Quem transformar a área de importação em área de estratégia (e não só de compras) atravessa 2025 preservando caixa e competitividade”, conclui Oliveira.
— Thiago Oliveira, CEO da Saygo






