A educação é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma nação. Capacitar e formar cidadãos faz parte de um planejamento social e estratégico para o futuro de qualquer país. No entanto, o Brasil atravessa uma crise profunda na área: 47% da população já avalia a educação como ruim, segundo o Global Education Monitor.
Os desafios são múltiplos: estruturais, pedagógicos, financeiros, sociais e culturais. O país ocupa o 53º lugar no ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), reflexo de uma negligência histórica que afeta, com mais força, as meninas brasileiras.
Evasão escolar feminina: um problema persistente
Embora os índices de acesso inicial à escola sejam semelhantes entre meninos e meninas, a permanência do público feminino é consideravelmente mais vulnerável. A PNAD Contínua de 2024 revelou que a gravidez continua sendo um obstáculo significativo à conclusão dos estudos, citada por 23,4% das jovens de 14 a 29 anos que abandonaram a escola — percentual que pouco se alterou desde 2019. A gravidez precoce e as responsabilidades domésticas estão entre os principais motivos da evasão escolar feminina.
É preciso retomar a importância da família nesse processo educativo. O adulto (pai, mãe ou cuidador) é quem detém a responsabilidade de compreender os impactos futuros da ausência de educação formal. Quando uma jovem não encontra esse ambiente de orientação dentro de casa, busca apoio em lugares e/ou pessoas que, muitas vezes, não conseguem ajudá-la adequadamente. É urgente que retomemos as rédeas da educação daqueles de quem somos responsáveis.
Consequências da evasão e o ciclo de pobreza
As consequências desse cenário são duradouras. A evasão escolar limita escolhas profissionais, reduz a chance de ingresso no ensino superior e aprofunda o ciclo de pobreza. Sem escolaridade adequada, meninas ficam mais vulneráveis a empregos informais, de baixa remuneração e sem proteção trabalhista, o que perpetua a ideia de que são reféns de suas circunstâncias. Isso compromete sua independência financeira, saúde mental e autoestima, além de aumentar o risco de violência doméstica e exploração. Para a sociedade, a perda é igualmente grave: diminui o potencial produtivo, científico e cultural do país e reforça estereótipos de gênero que afastam mulheres de áreas como ciência, tecnologia e liderança.
Ações para reverter o quadro da educação
Reverter esse quadro exige mais do que indignação: demanda ação coordenada entre Estado, sociedade civil e terceiro setor. Experiências já mostram caminhos possíveis. Organizações sociais atuam com programas de apoio pedagógico, orientação profissional e fortalecimento da autoestima de meninas em situação de vulnerabilidade. Políticas públicas também precisam avançar, garantindo creches em tempo integral, bolsas permanência, programas de combate à evasão escolar e campanhas de conscientização sobre gravidez precoce e divisão justa das tarefas domésticas.
Nesse contexto, o terceiro setor não se limita a complementar a atuação do Estado. Ele inova, fiscaliza, mobiliza e oferece suporte direto. É nesse encontro entre políticas públicas eficazes e iniciativas sociais transformadoras que está a chave para enfrentar as múltiplas causas da desigualdade de gênero na educação.
O papel da família e o futuro da educação de meninas
Reestruturar a educação no Brasil significa criar condições para que meninas possam não apenas sonhar, mas também realizar seus projetos de vida. Significa permitir que elas permaneçam na escola, escolham suas profissões e participem ativamente da construção de um país mais justo, inclusivo e desenvolvido. Sem a presença ativa da família ou do responsável nesse processo, tudo se torna muito mais difícil.
Este é um chamado a todos nós. Cada cidadão, família, empresa e instituição tem um papel a desempenhar. Pergunte-se: o que estou fazendo para que nenhuma menina precise escolher entre estudar e sobreviver? Tenho assumido a minha responsabilidade na orientação adequada?
A transformação só será possível quando entendermos que investir na educação de meninas não é apenas garantir direitos individuais, mas construir um futuro coletivo mais próspero e igualitário. Investir na educação de meninas muda o mundo.
*Ane Peloso é conselheira na Afesu, Diretora Geral no Colégio Catamarã Vita e possui mais de 25 anos de experiencia em educação, gestão de pessoas e processos.
Sobre a Afesu
Fundada em 1963, a Afesu (Associação Feminina de Estudos Sociais e Universitários) é uma organização sem fins lucrativos que promove a inclusão social de meninas e mulheres por meio da educação. Com cursos 100% gratuitos, voltados para beneficiárias de 7 a 25 anos, a instituição oferece formação integral, apoio escolar, qualificação profissional e desenvolvimento socioemocional e atua sempre sem conjunto a família da aluna. Com unidades em regiões vulneráveis nas cidades de São Paulo — Jardim Taboão, Vila Missionária e Cotia — a instituição já atendeu mais de 15 mil beneficiárias, impactando direta e indiretamente cerca de 60 mil pessoas.
A Afesu mantém uma sólida rede de parcerias com mais de 50 empresas e instituições — como WEG, Porto, Craft, Schneider Electric, Instituto Ambikira — que colaboram para a formação humana e iniciação profissional das beneficiárias. A organização também já recebeu diversos reconhecimentos por seu impacto social e por sua contribuição à educação de qualidade e equitativa no Brasil.
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