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Perícia investiga casos de envenenamento da serial killer

Cena do crime investigada pela perícia.

A Polícia Civil de São Paulo e o Ministério Público investigam Ana Paula Veloso Fernandes, 36 anos, estudante de Direito, como autora de uma série de homicídios por envenenamento. Os crimes chocaram o país. A suspeita está presa preventivamente e é apontada como uma “verdadeira serial killer” pela Justiça paulista. Ela é ré por quatro assassinatos cometidos entre janeiro e maio deste ano em São Paulo e no Rio de Janeiro.

As vítimas identificadas são:

  • Marcelo Hari Fonseca, 51 anos, dono de um imóvel alugado pela suspeita. Ele foi encontrado morto em avançado estado de decomposição em Guarulhos (SP), em 31 de janeiro;
  • Maria Aparecida Rodrigues, conhecida por Ana Paula por meio de aplicativo de relacionamentos. Ela morreu após consumir café e bolo na casa da investigada, em abril;
  • Neil Corrêa da Silva, 65 anos, pai de uma ex-colega de faculdade. Ele morreu após ingerir uma feijoada envenenada em Duque de Caxias (RJ), em abril;
  • Hayder Mhazres, tunisiano de 21 anos, namorado da suspeita. Ele morreu em maio após consumir um milkshake preparado por Ana Paula em São Paulo.

A Investigação e o modus operandi

A investigação aponta que Ana Paula agia com frieza e premeditação, utilizando venenos de difícil detecção e simulando causas naturais. Em todos os casos, ela foi a última pessoa a ter contato com as vítimas e a primeira a acionar a polícia, tentando se passar por testemunha ou vítima. A suspeita também teria testado os venenos previamente em animais, matando ao menos dez cães.

Além de Ana Paula, outras duas mulheres estão presas: Roberta Cristina Veloso Fernandes, irmã gêmea da suspeita, acusada de participação direta nos homicídios, e Michelle Paiva da Silva, filha de Neil, que teria pago R$ 4 mil para que o pai fosse assassinado.

O caso ganhou notoriedade após um episódio ocorrido em uma faculdade de Guarulhos, onde Ana Paula tentou envenenar colegas com um bolo deixado em sala de aula. O ato, segundo a polícia, foi uma tentativa de incriminar a esposa de um policial militar com quem a suspeita mantinha um relacionamento extraconjugal.

Aspectos técnicos da perícia médica

A médica Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica, esclarece que, mesmo em casos arquivados há meses, como o de Marcelo Fonseca, é possível detectar envenenamento por meio de protocolos forenses consolidados.

Quando sangue e urina já se degradaram, os peritos recorrem a matrizes mais resistentes, como cabelo, unhas, ossos e até insetos necrófagos, na entomotoxicologia.

— Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica

Segundo a perita, técnicas instrumentais permitem identificar traços mínimos de venenos e metabólitos. Três dos quatro corpos foram exumados e apresentaram sinais compatíveis com intoxicação, como edema pulmonar. A confirmação final depende dos laudos toxicológicos.

A investigação em casos de corpos trasladados

Sobre o caso do tunisiano Hayder Mhazres, cujo corpo foi trasladado para a Tunísia sem perícia no Brasil, a especialista afirma que a investigação ainda é viável.

Sem corpo, sem crime é um mito. A perícia pode atuar via cooperação internacional para obter laudos locais, prontuários e até solicitar exumação no exterior. Além disso, provas circunstanciais bem construídas, como sintomas, padrões de comportamento, evidências digitais e motivação, podem ser suficientes para oferecer denúncia e sustentar condenação.

— Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica

Caroline Daitx é médica especialista em medicina legal e perícia médica. Possui residência em Medicina Legal e Perícia Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como médica concursada na Polícia Científica do Paraná e foi diretora científica da Associação dos Médicos Legistas do Paraná. Pós-graduada em gestão da qualidade e segurança do paciente. Atua como médica perita particular, promove cursos para médicos sobre medicina legal e perícia médica. CEO do Centro Avançado de Estudos Periciais (CAEPE), Perícia Médica Popular e Medprotec. Autora do livro “Alma da Perícia”. Doutoranda do departamento de patologia forense da USP Ribeirão Preto.

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