A ascensão dos agentes artificiais marca um novo capítulo na história das tecnologias inteligentes. O fenômeno da “agentificação” nas organizações não é apenas uma consequência do avanço da inteligência artificial, mas um sinal de mudança estrutural na forma como as empresas operam, decidem e se relacionam com seus públicos. Em jogo não está somente a automação de tarefas, mas a redefinição dos papéis humanos nas dinâmicas informacionais e operacionais, especialmente nos ambientes profissionais.
Afinal, o que é agentificação?
Para compreender o fenômeno da “agentificação”, é necessário abandonar a clássica pergunta sobre se a inteligência artificial é ou não “inteligente”. Conforme argumenta o filósofo da informação Luciano Floridi, essa é uma armadilha conceitual que mascara o real desafio. A IA deve ser compreendida como uma nova forma de agência, e não como uma forma de inteligência.
A proposta teórica de Floridi, amplamente fundamentada em evidências técnicas e filosóficas, sustenta que estamos diante do que ele chama de Agência Artificial, uma modalidade de ação que não depende de cognição, consciência ou intenção para operar no mundo.
Agência Artificial: como funciona?
Floridi propõe a tese da múltipla “realizabilidade” da agência, segundo a qual diferentes formas de agentes – biológica, social, técnica e artificial – coexistem e operam sem que compartilhem necessariamente os mesmos fundamentos internos. Assim, a IA é uma forma genuína de trabalho.
Essa reformulação permite reconhecer que sistemas de IA não precisam “entender” ou “pensar” como humanos para agir. Eles podem operar com autonomia limitada, interatividade e capacidade de adaptação, os quais são os três critérios fundamentais propostos por Floridi para qualificar um agente.
Por que a visibilidade é crucial?
Essa abordagem evita erros e oferece uma base mais sólida para entender o impacto social e organizacional da agentificação. Ao operar como tais, esses sistemas passam a intervir diretamente no mundo, assumindo funções antes desempenhadas por humanos. Contudo, fazem isso sem as faculdades humanas de julgamento, empatia, moral ou intencionalidade. Por isso, seu uso requer tanto inteligência operacional quanto sabedoria estrutural.
Nesse contexto, a visibilidade do artificial é um pré-requisito para a confiança, a ética operacional e a sustentabilidade das ações organizacionais em um ecossistema cada vez mais mediado por inteligências não humanas. E você, confia nos agentes artificiais que estão ao seu redor?
Ricardo Cappra é filósofo e empreendedor, fundador do Cappra Institute e referência em cultura analítica e inteligência artificial. Autor de Híbridos: futuro do trabalho entre humanos e máquinas (Actual, 2025).






