A agentificação já redefine o funcionamento das organizações, e a recente sequência de bugs em plataformas de IA expõe os riscos dessa transformação acelerada. A situação se intensificou quando ChatGPT, X, Canva e outras plataformas ficaram fora do ar após uma instabilidade na Cloudflare, reforçando a urgência de compreender como esses sistemas artificiais sustentam (e fragilizam) operações críticas.
Afinal, o que é agentificação?
Ricardo Cappra, referência em cultura analítica e inteligência artificial, explica por que agentes artificiais operam sem julgamento humano e por que a visibilidade do artificial tornou-se essencial para garantir ética, segurança e previsibilidade.
A ascensão dos agentes artificiais representa um novo capítulo na história das tecnologias inteligentes. O fenômeno da “agentificação” nas organizações não é apenas uma consequência do avanço da inteligência artificial, mas o sinal de uma mudança estrutural na forma como empresas operam, decidem e se relacionam com seus públicos.
O que está em jogo não é somente a automação de tarefas, mas a redefinição dos próprios papéis humanos nas dinâmicas informacionais e operacionais, especialmente nos ambientes profissionais. Para compreender com rigor o fenômeno da “agentificação”, é necessário abandonar a pergunta clássica se a inteligência artificial é ou não “inteligente”.
IA como Agência Artificial
Como argumenta o filósofo da informação italiano Luciano Floridi, essa é uma armadilha conceitual que mascara o real desafio. A IA deve ser compreendida como uma nova forma de agência, e não como uma forma de inteligência.
A proposta teórica de Floridi, amplamente fundamentada em evidências técnicas e filosóficas, sustenta que estamos diante do que ele chama de Agência Artificial, uma modalidade de ação que não depende de cognição, consciência ou intenção para operar no mundo.
Floridi propõe a tese da múltipla “realizabilidade” da agência, segundo a qual diferentes formas de agentes, podendo ser biológica, social, técnica e artificial, coexistem e operam sem que compartilhem necessariamente os mesmos fundamentos internos. Assim, a IA é uma forma genuína de trabalho.
Autonomia e Interatividade
Essa reformulação nos permite reconhecer que sistemas de IA não precisam “entender” ou “pensar” como humanos para agir. Eles podem operar com autonomia limitada, interatividade e capacidade de adaptação, o qual são os três critérios fundamentais propostos por Floridi para qualificar um agente.
Ao operar como tais, esses sistemas passam a intervir diretamente no mundo, assumindo funções antes desempenhadas por humanos. Mas o fazem sem as faculdades humanas de julgamento, empatia, moral ou intencionalidade. É por isso que seu uso requer tanto inteligência operacional, quanto sabedoria estrutural.
Nesse contexto, a visibilidade do artificial é um pré-requisito para a confiança, a ética operacional e a sustentabilidade das ações organizacionais em um ecossistema cada vez mais mediado por inteligências não humanas. E você, confia nos agentes artificiais que estão ao seu redor?
A agentificação já redefine o funcionamento das organizações. — Ricardo Cappra, filósofo e empreendedor






