Três obras clássicas de José Sarney, “O dono do mar”, “Saraminda” e “A duquesa vale uma missa” (esta última com desfecho inédito), ganham novas edições, marcando um novo momento para a literatura brasileira.
Um Gesto de Renovação Literária
Aos 95 anos, o imortal da Academia Brasileira de Letras revisita parte significativa de sua obra, com edições que evidenciam sua sensibilidade e domínio narrativo. O projeto não é apenas um retorno editorial, mas também um gesto de renovação e permanência. Ao trazer de volta romances que transitam entre mito, história e paixão, Sarney oferece às novas gerações a chance de redescobrir uma escrita que combina lirismo, crítica e imaginação.
Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1980, José Sarney é um dos nomes mais reconhecidos da literatura brasileira contemporânea. Autor de romances, ensaios, contos e crônicas traduzidos em diversos países, consolidou uma trajetória literária que ultrapassa a vida pública, marcada por uma escrita que funde lirismo, memória e reflexão histórica.
Obras Reafirmam Potência Criativa
Em “O dono do mar”, Sarney transforma a tradição oral dos pescadores amazônicos em uma epopeia literária que entrelaça mito, destino e ancestralidade. A natureza, personificada, conduz uma narrativa de rara força poética, na qual o real e o fantástico se confundem. Publicado em diversos países, o romance é considerado um marco da literatura brasileira sobre o imaginário amazônico, elevando a cultura ribeirinha ao plano universal.
Saraminda e as Fronteiras da Paixão
Já “Saraminda” transporta o leitor para os garimpos do Contestado do Amapá e da Guiana Francesa, no século XIX. Nesse cenário de fronteiras tensas e riquezas disputadas, Sarney constrói uma trama marcada pela sensualidade e pela tragédia, tendo como figura central a enigmática Saraminda. A obra combina lirismo, crítica social e densidade histórica, revisitando um episódio esquecido da memória nacional enquanto revela personagens movidos por cobiça e desejo.
A Duquesa Vale uma Missa: Arte, Política e Loucura
Arte, política e loucura se entrelaçam em “A duquesa vale uma missa”. O autor recria uma narrativa de fascínio e obsessão em que Leonardo, o protagonista, vive apaixonado por uma mulher que jamais conheceu: a Duquesa de Villars, retratada em um quadro renascentista. O romance mergulha nas fronteiras entre delírio e realidade, evocando fantasmas históricos e explorando o poder da imaginação. Na nova edição, a obra chega com um desfecho inédito, acrescentando camadas à trama que se tornou uma das mais ousadas da literatura de Sarney.
Um Legado Literário Reafirmado
O relançamento desses três clássicos reafirma a potência criativa de José Sarney como romancista capaz de dialogar com a história, o mito e a imaginação. São obras que permanecem vivas, atravessando o tempo e convidando leitores a adentrar em universos tão diversos quanto a Amazônia mítica, os garimpos da fronteira e as intrigas da corte renascentista. Literatura que é memória, mas, também, reinvenção.






