Em meio à rotina agitada, muitos leitores buscam textos breves e reflexivos. O livro Contos do Tempo e da Terra, do Fogo e do Mar, de Ricardo Pegorini, oferece 30 narrativas curtas que exploram o cotidiano com profundidade poética, transformando momentos em reflexões sobre tempo e existência.
Uma viagem pelas emoções humanas
A coletânea mergulha na condição humana em todas as suas dimensões, do real ao simbólico, do habitual ao mítico, do íntimo ao universal. Ao revisitar as forças elementares – ar, terra, fogo e água –, o autor convida o leitor a refletir sobre o instante que se transforma em eternidade e sobre o comum que, tocado pela imaginação, adquire contornos épicos e fantásticos.
Com rigor literário e sensibilidade, os contos não seguem uma única direção, mas se articulam como um atlas de emoções e memórias. Em “Um dia diferente”, o autor transforma o caos de uma enchente em metáforas da resistência humana. Já em “Lágrimas na chuva”, poesia e crítica social se entrelaçam para denunciar o esquecimento diante das tragédias. Por sua vez, “A Nau dos Loucos” oferece uma reflexão alegórica sobre a loucura e a exclusão. Cada narrativa reafirma o olhar filosófico e atento do escritor à fragilidade e à grandeza da existência.
Das estranhezas que a loucura nos propõe, certamente se impõe a propriedade de não termos somente uma única loucura, um único desvio, um único padrão de desatino a habitar as profundezas da mente. Eu sei, porque já sou louco há bastante tempo, e, como todos sabem, a diabrura é espraiada e gera “diabrices” ao longo dos anos que passam voando. Também podemos admitir momentos em que uma determinada loucura se impõe ante às demais, preponderando no período de desatino conforme a temperatura da vida naquele instante.
— Ricardo Pegorini, em Contos do Tempo e da Terra, do Fogo e do Mar
A relação entre mente, tempo e natureza
Ao capturar esses fragmentos da experiência humana, entre eles solidão, epifanias, memória, perdas, humor e sombras, Ricardo Pegorini revela como a mente está ligada ao tempo e aos elementos da natureza. A terra surge como raiz e sustentação, lembrando a importância da ancestralidade e da conexão com o que é sólido. O fogo simboliza destruição, paixão e renovação, mostrando que da perda pode nascer transformação. O mar representa travessia, incerteza e horizonte, metáfora das buscas humanas por sentido e liberdade. Por fim, o tempo ressignifica memórias e escolhas.
Essa relação simbólica e emocional mostra que o destino é moldado pela interação constante entre o psicológico, o temporal e o natural, refletindo a forma como cada indivíduo vive, sente e transforma a própria existência. Os contos sugerem que viver é aprender a se reconhecer, encontrar pertencimento no outro, buscar coragem em si, desbravar o desconhecido e descobrir sabedoria no novo.
Um convite à leitura
Contos do Tempo e da Terra, do Fogo e do Mar é um mosaico de histórias curtas para quem tem pouco tempo de ler. A obra convida ainda o leitor a percorrer terras distantes e mares interiores, onde o fogo da criação e a densidade da vida ecoam para além das páginas. “O livro se caracteriza como uma obra híbrida de contos contemporâneos, entre a ficção especulativa, o realismo poético e a tradição oral”, conclui o autor.
