Datas promocionais como a Black Friday e o Natal deveriam representar o auge das vendas no varejo brasileiro. No entanto, o que se espera ser um pico comercial frequentemente se transforma em dores de cabeça operacionais e de reputação. A receita, que poderia crescer expressivamente, acaba se perdendo em falhas de sistema, atrasos logísticos, inconsistências nas entregas e ausência de uma preparação organizacional sólida.
Impacto dos picos de venda no e-commerce
Em 2024, o faturamento do e-commerce na Black Friday alcançou R$ 9,38 bilhões. No Natal, esse número saltou para R$ 26 bilhões, impulsionado por mais de 82 milhões de pedidos. Oportunidades como essas exigem maturidade estrutural. Ainda assim, mais de 14 mil reclamações foram registradas no Reclame AQUI durante a Black Friday. Atraso na entrega, propaganda enganosa, produto não recebido e dificuldades na finalização da compra lideraram os relatos dos consumidores.
Esses problemas não surgem do nada, refletem o descompasso entre o crescimento da demanda e a falta de preparo das empresas para lidar com ela. Muitas organizações continuam tratando picos de venda como eventos isolados e excepcionais, quando deveriam incorporá-los ao planejamento estratégico de longo prazo. Sem essa visão, o que deveria gerar crescimento acaba comprometendo a credibilidade da marca e a saúde dos projetos internos.
A importância da coordenação e gestão de mudanças
Mesmo com tecnologia avançada e equipes experientes, os sistemas continuam falhando nos momentos mais críticos. Em muitas operações, projetos estratégicos ainda sofrem interrupções para que a empresa concentre esforços na venda imediata. Cronogramas são congelados, iniciativas suspensas e prioridades reorganizadas às pressas. Esse desvio pode parecer necessário no curto prazo, mas mina a capacidade da organização de sustentar sua própria evolução.
A falta de coordenação entre o ritmo da operação e o andamento dos projetos explica boa parte dos colapsos recorrentes. Implantações importantes, como as de sistemas ERP, por exemplo, muitas vezes ignoram o calendário comercial, gerando conflitos de agenda, sobrecarga e desperdício. Quando a área de tecnologia avança sem o envolvimento das áreas de negócio ou sem considerar os momentos de maior pressão comercial, o risco de paralisar ou atrasar entregas cresce exponencialmente.
Nesses contextos, a gestão de mudanças deixa de ser apoio para assumir papel central. É essa frente que prepara as pessoas, alinha as agendas e garante que a empresa consiga seguir operando enquanto implementa transformações. Sem ela, equipes agem no improviso e decisões se desencontram.
O papel do PMO na organização
Ao lado da gestão de mudanças, a atuação do PMO (Project Management Office) também se mostra fundamental. Em vez de funcionar apenas como um repositório de cronogramas, o escritório de projetos precisa atuar como facilitador do equilíbrio entre execução e planejamento. Ele ajuda as lideranças a reorganizar entregas de forma realista, conecta áreas que operam sob pressões diferentes e mantém a visibilidade sobre tudo o que está em curso. Um PMO eficiente antecipa gargalos e redesenha prioridades antes que o conflito entre vender e transformar paralise a empresa.
Planejamento antecipado como solução
Evitar o colapso durante períodos de alta demanda exige um nível de organização que começa muito antes da campanha. Preparar-se para a Black Friday, por exemplo, não pode acontecer às vésperas de novembro. A construção precisa começar meses antes, com base em dados, previsibilidade e clareza de papéis. Essa antecipação permite absorver desvios de rota e agir com flexibilidade, sem comprometer o resultado.
Empresas que mantêm seus projetos em andamento mesmo sob alta carga operacional não operam no improviso. Elas criam espaço para o imprevisto, sem abrir mão da estratégia. Essa capacidade de seguir entregando, mesmo sob pressão, nasce da maturidade organizacional e da clareza na governança. O planejamento vira rotina e a performance deixa de ser exceção.
A solidez operacional, portanto, não depende apenas da infraestrutura tecnológica, mas da forma como a organização se estrutura internamente para manter sua consistência nos momentos mais exigentes. Operar e evoluir ao mesmo tempo precisa deixar de ser um desafio e passar a ser uma competência.
Para evitar o colapso, é crucial que as empresas comecem a se preparar para os picos de venda com meses de antecedência, baseando-se em dados, previsibilidade e papéis bem definidos.
— Adilson Cruz, PMO da Gateware






