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Traição e política: reflexões de Guto Araujo sobre o poder

Traição e política: reflexões de Guto Araujo sobre o poder

Em um cenário de constante desconfiança, acordos e alianças, a traição na política se torna um tema central. O publicitário e estrategista de marketing político, Guto Araujo, oferece uma análise crítica sobre como essa lógica permeia o mundo político, tanto no Brasil quanto globalmente.

A teia de desconfiança no poder

Para aqueles que atuam na política ou em áreas de apoio, como a comunicação, é evidente a atmosfera de desconfiança que envolve o ambiente, especialmente no que diz respeito a acordos e alianças. As articulações e manobras fazem parte do jogo, muitas vezes obscurecendo os processos que levam àquilo que se rotula como “traição”.

Nesse sistema, a busca incessante pelo poder transforma o atropelo em método. A traição, definida como o rompimento de um acordo ou compromisso, quebra a confiança e a lealdade. As relações, tensas e complexas, moldam a história da política e suas traições clássicas.

Quem trabalha com política ou em áreas que apoiam sua estrutura, como a comunicação, sabe que a área é envolta pela atmosfera de desconfiança, especialmente no campo dos acordos e alianças. As costuras, armações e tramoias fazem parte do tabuleiro, assim como o abafamento dos processos que levarão à suposta “traição”, como se fosse um emaranhado de pessoas num “cabo de guerra”, em que as cordas se entrelaçariam influenciando no equilíbrio das outras.

— Guto Araujo, publicitário e estrategista de marketing político

Traições históricas e contemporâneas

Ao longo da história, exemplos de traição na política são abundantes. Desde Brutus traindo Júlio César até Joaquim Silvério dos Reis delatando Tiradentes, a quebra de confiança moldou o curso dos acontecimentos. No século XXI, o Brasil também testemunhou rupturas e processos traumáticos, como investigações, prisões e impeachments.

Segundo Araujo, enquanto houver seres humanos, haverá traição. O psicanalista Jacques Lacan argumenta que a consciência do sujeito é o discurso do outro, ou seja, o indivíduo é moldado pela linguagem e pelas mensagens que recebe. Assim, a perspectiva do traidor e do traído se torna crucial.

Afinal, qual a razão da traição?

O traído raramente compreende as razões do traidor, que sempre encontrará uma justificativa para seus atos. A formação da consciência do traidor pode estar enraizada na crença de que será traído, levando-o a trair primeiro.

Nesse contexto, o cenário político se assemelha a um poço de tubarões, onde as consequências da traição são inevitáveis. A certeza de que serão traídos molda a consciência dos traidores na política e arredores. Independentemente da honestidade, lealdade ou parceria dos traídos, a traição se torna uma constante.

A perspectiva psicanalítica

Em sua obra, o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), afirma que “a consciência do sujeito é o discurso do outro”, ou seja, para ele o sujeito é constituído a partir da linguagem e das mensagens recebidas por terceiros. Portanto, o sujeito seria o resultado de uma estruturação da linguagem durante sua formação, sua vida. É como se fosse a combinação de pequenas partes desse todo – linguagem – na formação de suas emoções, expectativas e bases de relacionamento interpessoal. Assim sendo, qual a perspectiva do traidor e qual a do traído, qual a razão de cada um. Se a leitura se der dessa forma, o traído nunca verá a razão do traidor, que sempre achará uma justificativa plausível que ratifique sua traição. Talvez a formação da consciência do traidor tenha se dado justamente no contexto do: “alguém sempre me trairá” e o complemento seria: “portanto trairei primeiro”.

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