A Black Friday está chegando, e o impulso de comprar parece inevitável. Contudo, o consumismo pode estar servindo como um analgésico emocional. É o que explica o psicanalista Betto Alves, especialista em inteligência emocional, que observa um crescimento preocupante de pessoas que recorrem às compras como forma de preencher vazios internos ou aliviar angústias.
O apelo emocional da Black Friday
Às vésperas da Black Friday, que movimentou R$ 9,3 bilhões em vendas online em 2024, crescendo 10,5% em relação ao ano anterior (InfoMoney), a pesquisa do E-commerce Brasil revelou que 93% dos consumidores pretendem aproveitar as promoções, com 43% planejando gastar mais do que em 2023. Esse cenário evidencia o forte apelo emocional que o consumo exerce nesta data.
No entanto, por trás da euforia das ofertas, surge um alerta psicológico. Conforme explica Betto Alves, muitas pessoas buscam nas compras uma forma de silenciar a dor. “Comprar virou uma forma de silenciar a dor. Em vez de olhar para dentro, muitas pessoas buscam o alívio momentâneo que o consumo proporciona”, afirma Betto. “O problema é que essa satisfação é passageira e, quando ela acaba, o vazio volta ainda maior.”
Compras impulsivas e a cultura da promoção
De acordo com o especialista, a cultura da promoção e da urgência, especialmente em datas como a Black Friday, potencializa o comportamento de compras sem pensar. “A propaganda cria a ilusão de que você precisa daquele produto para ser mais feliz, mais completo ou mais aceito. É uma armadilha emocional muito bem montada”, ressalta.
Betto Alves explica que o consumo em si não é o vilão, mas sim a motivação por trás dele. “Se você compra algo porque realmente precisa ou porque se planejou, tudo bem. Mas se o ato de comprar é uma tentativa de preencher um buraco emocional, é sinal de alerta”, diz.
O ciclo vicioso do consumo compulsivo
Para o psicanalista, o ciclo do consumo compulsivo se assemelha ao de outras fugas emocionais. “A pessoa sente uma dor interna, faz uma compra e experimenta um prazer rápido, mas logo vem a culpa, a ansiedade e a necessidade de repetir o processo. É um círculo vicioso que mascara um sofrimento mais profundo.”
O papel das redes sociais
Além disso, as redes sociais atuam como grandes catalisadoras desse comportamento. “Elas vendem não só produtos, mas também estilos de vida. Você vê alguém feliz com algo novo e acredita que também precisa daquilo para se sentir bem. O problema é que ninguém posta o vazio que vem depois”, complementa Alves.
Reflexão antes da compra
Com a chegada da Black Friday, Betto propõe uma reflexão diferente: “Antes de comprar, pergunte-se: eu quero isso ou eu preciso disso? E mais, por que estou querendo isso agora? Muitas vezes, a resposta está ligada a emoções não resolvidas, como solidão, frustração ou necessidade de validação.”
Ele reforça que o autoconhecimento é o caminho mais saudável para lidar com essas sensações. “Quando aprendemos a identificar nossas dores e emoções, deixamos de terceirizar o alívio. O consumo deixa de ser anestesia e volta a ser escolha.”
Por fim, Betto conclui com um alerta direto: “A Black Friday passa, mas a sua relação com você mesmo fica. Comprar pode ser bom, mas fugir de si mesmo tem um preço alto, e ele não está nas etiquetas.”
Serviço: Betto Alves é psicanalista especialista em Desenvolvimento Humano.






