A crescente exposição de crianças a telas e dispositivos digitais tem gerado preocupações sobre seu desenvolvimento. Um estudo do National Institutes of Health (NIH) associa o uso excessivo de telas a déficits de linguagem, atenção e habilidades motoras. Diante desse cenário, a importância da ilustração feita à mão e de experiências sensoriais ricas ganha destaque na construção de vínculos profundos.
A urgência de repensar a produção de livros e imagens
Para Guilherme Bevilaqua, conhecido como Prof. Laqua, ilustrador com 27 anos de carreira, é fundamental repensar a forma como livros e imagens são produzidos para crianças. Ele observa que há um excesso visual e uma carência de afeto nas imagens oferecidas aos pequenos.
Vivemos um momento de excesso visual e escassez de afeto nas imagens. As crianças recebem estímulos visuais prontos, pasteurizados e muitas vezes vazios de intenção. A ilustração feita à mão devolve presença, nuance e calor.
— Guilherme Bevilaqua, ilustrador
Segundo Laqua, a ilustração manual oferece nuances e calor, criando uma conexão silenciosa e potente com o leitor.
O resgate da produção artística autoral
Nos últimos anos, Laqua tem se dedicado a fortalecer a produção artística autoral, buscando resgatar o sentido das narrativas visuais na infância. Para ele, o objetivo não é apenas desenhar, mas transmitir emoção e subjetividade.
A ilustração manual é quase um gesto de resistência afetiva em um mundo acelerado. Quando o traço é vivo, ele respira junto com o leitor e cria uma conexão silenciosa, mas potente.
— Guilherme Bevilaqua, ilustrador
Além disso, o movimento por uma arte mais consciente ganha espaço na formação de novos profissionais. Cursos de ilustração incentivam a criação de personagens e estilos autorais, buscando singularidade e comunicação única.
Encontros presenciais e a valorização da experiência real
O resgate da arte autoral também envolve encontros presenciais e experiências de criação. Oficinas de aquarela e rodas de conversa fortalecem o vínculo entre ilustradores, editores e leitores. Laqua enfatiza que o retorno ao papel e ao contato direto é uma escolha intencional, buscando lucidez em vez de nostalgia.
O retorno ao papel, ao olhar olho no olho, ao tempo da criação manual, é uma escolha intencional. Não é nostalgia: é lucidez.
— Guilherme Bevilaqua, ilustrador
Em um mundo dominado por inteligência artificial e conteúdos automatizados, o traço humano se destaca como forma de expressão. Nesse contexto, o ilustrador infantil tem a missão de moldar imaginários e criar memórias afetivas visuais duradouras.
Quem trabalha com imagem para criança precisa entender que cada traço é uma conversa. E que essa conversa pode marcar uma vida inteira.
— Guilherme Bevilaqua, ilustrador






