O setor jurídico está adotando a Inteligência Artificial (IA) e dados para revolucionar a recuperação de crédito. Essa mudança transforma o departamento em uma área estratégica, com impacto direto nos resultados financeiros das instituições credoras.
IA impulsiona decisões estratégicas na recuperação de crédito
O uso de dados e inteligência artificial tem transformado a atuação do setor jurídico na recuperação de crédito. Anteriormente visto como um centro de custo, o departamento jurídico agora assume um papel estratégico, contribuindo com decisões baseadas em evidências e indicadores. Essa mudança foi tema do debate “A inteligência artificial a favor da cobrança jurídica”, realizado no CMS Financial Innovation 2025, em São Paulo.
Arthur Padilha, diretor de Produtos da Neurotech, defende a integração do jurídico ao ecossistema de crédito, desde a concessão até a cobrança. Segundo ele, o uso de dados complementares para priorizar dívidas com maior chance de sucesso aumenta a eficiência na recuperação.
Utilizar dados complementares para priorizar as dívidas que têm maior chance de sucesso em ajuizamento aumenta, significativamente, a relação do real recuperado pelo real gasto no contencioso.
— Arthur Padilha, diretor de Produtos da Neurotech
A Neurotech desenvolveu soluções como o “Inteligência de Ajuizamento”, que cruza dados patrimoniais, societários e comportamentais para apoiar decisões jurídicas mais eficazes. Essa ferramenta permite mapear vínculos entre pessoas físicas e jurídicas, identificar movimentações patrimoniais suspeitas e antecipar estratégias de cobrança. Instituições financeiras utilizam essa ferramenta para definir prioridades de ajuizamento com base em evidências concretas, onde a acurácia dos dados apresentados ao juiz pode ser determinante para a concessão de medidas como penhoras e arrestos.
Análise de dados não estruturados otimiza a cobrança
Além dos dados estruturados, a Neurotech investe em análise de dados não estruturados, como áudios de ligações de cobrança. Utilizando IA generativa, a empresa desenvolveu o Bruce, solução que processa milhões de áudios simultaneamente, transcrevendo e extraindo indicadores relevantes para otimizar e hiperpersonalizar as réguas de cobrança.
Padilha destaca a importância das informações coletadas durante as abordagens de cobrança, que muitas vezes são subutilizadas nas estratégias de recuperação. Ele cita casos em que devedores sinalizam a intenção de entrar com processo contra o banco ou financeira.
Durante as abordagens de cobrança são ditas muitas informações relevantes que, atualmente, ainda são pouco utilizadas nas estratégias de recuperação, seja jurídica ou renegociação. Já vimos inúmeros casos em que a pessoa devedora sinaliza, em várias ligações, que vai entrar com processo contra o banco ou financeira.
— Arthur Padilha, diretor de Produtos da Neurotech
Essas informações auxiliam na segmentação dos devedores e na definição de estratégias específicas. Em vez de aplicar uma régua única de cobrança, as instituições podem decidir se vale ajuizar uma ação ou tentar uma renegociação com base em padrões de comportamento e risco. A análise de dados também permite retroalimentar os modelos de crédito, ajustando políticas com base no histórico de inadimplência e recuperação.
Integração e velocidade na análise de dados são cruciais
Durante o debate, que contou com representantes de empresas como PagBank, Banco Pan, Mutant e Recuperi Tecnologia, os participantes discutiram a importância de integrar o jurídico a outras áreas da organização. A atuação conjunta com times de dados, tecnologia e crédito permite decisões mais alinhadas com os objetivos financeiros da empresa.
Ademais, Padilha também destacou que a velocidade na análise e uso das informações é um fator crítico. Em casos de risco elevado, como devedores que realizam múltiplos financiamentos incompatíveis com sua capacidade financeira, a atuação rápida pode evitar perdas.
Quem conseguir ter mais velocidade e celeridade enquanto instituição financeira para atingir a pessoa na hora certa, no momento certo e com a estratégia jurídica correta, vai ter mais sucesso na cobrança jurídica.
— Arthur Padilha, diretor de Produtos da Neurotech
A atuação da Neurotech reflete uma tendência de transformação do jurídico em uma área orientada por dados, com impacto direto nos resultados da empresa. A combinação de jurimetria, inteligência artificial e análise comportamental tem sido usada para definir prioridades de ajuizamento, calibrar políticas de cobrança e embasar decisões judiciais. Com isso, o jurídico deixa de ser apenas executor de teses e passa a atuar como agente estratégico na recuperação de crédito.






