A COP30 se aproxima com a ambição de redefinir os compromissos ambientais globais. Contudo, um aspecto crucial permanece negligenciado: o impacto climático das big techs e da infraestrutura digital que impulsiona a economia contemporânea. Essa ilusão da sustentabilidade digital precisa ser revista com urgência.
A crença equivocada na sustentabilidade digital
Atualmente, prevalece a visão de que digitalização é sinônimo de sustentabilidade. No entanto, essa crença se baseia em métricas incompletas e em inventários que não abrangem a totalidade das emissões tecnológicas. Além disso, as metodologias empregadas foram concebidas para o século XX, e não para a realidade atual, impulsionada por dados, modelos de Inteligência Artificial e processamento em larga escala.
Grande parte dos países promove a digitalização como um catalisador da sustentabilidade, mas omite em seus compromissos climáticos métricas sólidas sobre a pegada de carbono do próprio setor digital. É como defender uma revolução verde sem considerar a energia que alimenta os data centers que a viabilizam. A conta simplesmente não fecha.
Conflito de interesses e a falta de escrutínio
Ademais, surge um risco adicional quando as plataformas digitais se tornam as principais fornecedoras das ferramentas utilizadas pelos governos para monitorar e relatar dados climáticos. Nesse cenário, cria-se um conflito estrutural, em que o setor que oferece a solução permanece isento de avaliação. Essa dependência tecnológica, se não acompanhada de critérios claros de governança e auditoria, transforma as big techs em atores imunes ao escrutínio ambiental.
Oportunidade na COP30
A COP30 representa uma oportunidade histórica para corrigir essa disparidade. É imperativo incluir o setor digital como uma categoria específica nos inventários nacionais, estabelecer métricas padronizadas para as emissões tecnológicas, exigir relatórios transparentes sobre o consumo de energia e impedir que o marketing verde se sobreponha à responsabilidade ambiental.
Não há neutralidade climática possível enquanto uma das indústrias mais poderosas do mundo opera sem um sistema de aferição claro, auditável e comparável. A COP30 precisa tirar as big techs da sombra e colocá-las dentro do debate real.
— Sthefano Cruvinel, Jurista, Conselheiro Governamental, Auditor de Tecnologia com atuação no STJ e CEO da EvidJuri
Em suma, a transparência e a responsabilidade são essenciais para garantir que a promessa de um futuro digital sustentável se concretize. Caso contrário, permanecerá apenas uma narrativa vazia.






