A ascensão dos confidentes artificiais no campo da saúde mental levanta questões importantes sobre a natureza do acolhimento e os limites da tecnologia. Em “O problema dos três corpos: o terapeuta, o paciente e o código”, Alex Lopez Lima explora essa temática, analisando como a inteligência artificial (IA) está sendo utilizada para oferecer suporte emocional e terapia.
Afinal, a IA pode substituir o terapeuta?
O autor discute uma meta-análise publicada na NPJ Digital Medicine (2024), que revela que chatbots já são capazes de reduzir sintomas depressivos de forma comparável à terapia cognitivo-comportamental (TCC) humana em casos leves. Além disso, aponta que 40% dos pacientes preferem a IA devido à sua disponibilidade e ausência de julgamento.
No entanto, Lima alerta para os riscos de confundir a simulação de empatia com o verdadeiro acolhimento. Ele questiona se o acolhimento reside na biologia ou na técnica, e reflete sobre a importância do testemunho da dor humana, algo que a IA, por mais avançada que seja, não pode oferecer plenamente.
O terapeuta humano não apenas ouve — ele testemunha. Sua própria mortalidade, suas cicatrizes, sua finitude compartilham do mesmo peso existencial que o paciente. Quando um humano diz “eu compreendo sua dor”, há um registro implícito: “porque eu também sangro”.
— Alex Lopez Lima, economista e autor
Regulamentação e ética na IA
Para que a IA se torne um apoio benéfico e não um abismo, Lima defende a regulamentação rigorosa e o desenvolvimento de IAs especializadas. Além disso, ressalta que esses sistemas devem promover a exploração de prós e contras em vez de oferecer conselhos diretos, e devem orientar o usuário a buscar ajuda profissional em momentos de crise.
Ademais, o autor questiona o que significa buscar consolo em algo que simula compreensão sem jamais compreender, e onde termina o código e começa a alma. Ele conclui que, com o tempo, teremos que aprender a fazer essa escolha, diferenciando entre a presença e a disponibilidade, a empatia e o processamento de linguagem.
Ouvir não é testemunhar
Em suma, o artigo convida a uma reflexão profunda sobre o papel da IA na saúde mental, destacando a importância de não confundir a capacidade de processar informações com a capacidade de oferecer um verdadeiro testemunho da dor humana. Afinal, o algoritmo nos oferece ouvidos infinitos, mas ouvir não é o mesmo que testemunhar.






