A inadimplência corporativa atingiu recordes nos últimos anos, e a previsão para 2026 indica um cenário ainda desafiador. Nesse contexto, empresas buscam repensar seus modelos de cobrança e acelerar a digitalização para preservar a liquidez.
Tendências na cobrança para 2026
Com juros elevados e financiamento seletivo, empresas precisam cobrir descasamentos de caixa, ampliando o impacto de faturas atrasadas. A eficiência na cobrança se torna crucial, influenciando decisões comerciais e projeções financeiras.
A digitalização das rotinas, a integração de sistemas e a adoção de inteligência para prever atrasos e automatizar contatos são as respostas para proteger o caixa em um ano de margens apertadas.
Automação como espinha dorsal
A pressão sobre o capital de giro leva empresas a considerarem a automação no ciclo de cobrança como essencial. Dados do Índice de Recuperação do Crédito B2B (IGR) reforçam essa necessidade: 25% dos títulos vencidos negociados concentram-se nos primeiros 10 dias de atraso, período com maior taxa de recuperação (mais de 82%).
Após 21 dias, a chance média de recuperação cai para cerca de 52%, e após 60 dias, para 40%. O tempo se torna um fator crítico, e atrasos na detecção ou no primeiro contato resultam em perdas financeiras.
Em empresas digitalizadas, conciliações, lembretes e verificações fluem continuamente, reduzindo incertezas. A inteligência aplicada ao comportamento de pagamento identifica sinais de risco e ajusta a abordagem.
Títulos tratados cedo recuperam mais em todas as regiões e segmentos, com índices acima de 80% até o décimo dia, mesmo em mercados sensíveis.
Ciclo de recebimento e saúde financeira
A automação e a inteligência encurtam o ciclo de recebimento. Quase 40% dos títulos vencidos já entram na régua com até 20 dias de atraso, com recuperação média de 70% a 82%. Ultrapassar 30 dias reduz esse percentual para 52%, e após 60 dias, para pouco mais de 40%.
Cada dia adicional no ciclo reduz a previsibilidade e exige mais capital próprio. A redução do tempo entre faturamento e entrada do recurso se torna pilar de liquidez. A atuação da régua antes da deterioração impacta os indicadores financeiros.
Essa assimetria entre a inadimplência e a lentidão dos processos internos torna o ciclo de recebimento um indicador sensível da capacidade de organizar informações e tratar atrasos como risco financeiro.
IA na previsão de inadimplência
A redução dos atrasos envolve a capacidade de antecipá-los. Ferramentas de IA analisam padrões sutis, como mudanças de comportamento e alterações no histórico de interação.
Assim, a cobrança atua antes do vencimento, e a renegociação se torna mais rápida e assertiva. A empresa lida com o risco de forma contínua, não como um evento repentino.
O papel do CFO na gestão de cobrança
O CFO assume um papel estratégico, articulando tecnologia, risco, crédito, fiscal e cultura organizacional. Processos de cobrança agora integram discussões sobre estratégia comercial e sustentabilidade financeira.
O CFO garante a transparência algorítmica, definindo critérios e supervisionando métricas alinhadas à política corporativa e à proteção de dados.
A integração de fluxos, a antecipação de riscos e a redução de dependências manuais aumentam a previsibilidade e estabilizam o caixa.
Em conclusão, as tendências para 2026 apontam para um setor de cobranças mais técnico, orientado por dados e integrado à estratégia das organizações. A combinação de automação, inteligência preditiva e governança financeira será o diferencial para preservar a liquidez.
Em um mercado que cobra agilidade, transparência e assertividade, cobrar bem passa a ser, mais do que nunca, administrar bem.
— Silvano Boing, CEO da Global Hub de Soluções de Relacionamento e Cobrança






