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Bissexualidade masculina: entre tabus e liberdade

Bissexualidade masculina: entre tabus e liberdade

O homem bissexual existe e, cada vez mais, encontra espaço para existir em paz. Entre tabus históricos e novos caminhos de liberdade, eles relatam como estão ressignificando a própria masculinidade.

A masculinidade plural

Durante décadas, a sociedade impôs um modelo único de masculinidade: o homem heterossexual, rígido e previsível. Qualquer desvio desse roteiro era motivo de piada ou estigma. Nesse cenário, o homem bissexual era empurrado para o silêncio.

Segundo a neuropsicanalista clínica Sanny Rodrigues, esse apagamento é resultado do machismo estrutural. “Determinou-se apenas um tipo de desejo aceitável para homens. Quando aparece algo que amplia essa experiência, muitos se assustam. Mas não é o desejo que adoece, é o silêncio”, explica a especialista, convidada pelo app de relacionamentos liberais Ysos.

O tabu dentro de casa

Mesmo com as mudanças culturais, muitos homens bissexuais ainda enfrentam receios em suas relações. Usuários do Ysos, Tales e Rogério relatam que o medo de serem mal interpretados pela parceira ou pela família foi, por muito tempo, o maior obstáculo.

Tales explica que a preocupação maior não é “o que a sociedade vai pensar”, mas “como isso será recebido em casa”. Ele conta que, durante a vida de solteiro, não desenvolveu vínculos emocionais com outros homens, construindo suas relações afetivas mais significativas com mulheres. Após o casamento com Alessandra, sua experiência se expandiu: hoje, vive um quadrisal formado por ele e sua esposa, junto a outro casal. “Tenho mais intimidade com o homem, enquanto minha esposa tem mais intimidade com a mulher”, conta.

Rogério viveu momentos em que sua bissexualidade foi confundida com indecisão ou falta de desejo pela esposa. Ele sempre se relacionou sexualmente com homens, porém sem criar vínculos afetivos, algo que se estruturava mais facilmente com mulheres. “Acredito que o medo do julgamento não me permitiu lidar com questões de afeto ao longo do tempo. Nunca namorei um homem, e antes isso nem era uma possibilidade real na minha cabeça. Hoje vejo que muita coisa na minha visão sobre a bissexualidade precisaria mudar para que isso fosse possível”, diz.

Faltava informação. Quando a gente não fala sobre isso, cria-se um espaço para dúvidas que poderiam ser evitadas com diálogo.

A descoberta no meio liberal

O meio liberal pode ser uma porta importante para o autoconhecimento, e é isso que muitos homens vivenciam.

“A primeira vez que entrei no app, senti que ali eu poderia ser eu mesmo”, conta Tales. Rogério concorda: “Foi a primeira vez que conversei com outras pessoas que já tinham passado pelas mesmas dúvidas que eu. A sensação de pertencimento muda tudo”.

Para ambos, ver outras pessoas vivendo suas sexualidades com naturalidade foi essencial para diminuir a culpa e ampliar a própria liberdade. “Quando o desejo é tratado com respeito, a gente começa a se tratar com mais respeito também”, comenta Rogério.

Ysos: espaço de leveza

De acordo com Gustavo Ferreira, head de marketing do Ysos, esse é o papel da plataforma: oferecer um espaço seguro, responsável e livre de rótulos impostos de fora. “No Ysos, ninguém precisa performar nada. A ideia é proporcionar encontros sinceros, conversas honestas e uma experiência em que homens bissexuais não precisem se justificar, apenas existir”, explica.

Para Sanny, essa existência sem medo é um fator de saúde emocional. “Quando um homem encontra um ambiente onde seu desejo não é ridicularizado, ele começa a integrar sua identidade de forma muito mais saudável. Isso abre portas para relações mais leves, verdadeiras e conectadas.”

Ressignificando a masculinidade

Para Tales, viver sua bissexualidade trouxe transformações além da esfera sexual. “Quando você para de tentar ser o ‘macho impenetrável’, começa a enxergar a vida com mais sensibilidade. Isso melhora afeto, comunicação, tudo.”

Sanny reforça que a bissexualidade masculina não deveria ser encarada como ameaça, mas como oportunidade de ampliar a forma de ser homem. “A pluralidade do desejo permite que muitos encontrem novas maneiras de sentir, de se relacionar, de existir e isso é profundamente positivo.”

Construindo a liberdade

Segundo Sanny, alguns passos ajudam homens a fortalecerem sua autonomia emocional e sexual de forma leve e acolhedora:

  • Construir redes de apoio: lembre-se de que você não está sozinho. Outras pessoas compartilham seus desejos e suas dúvidas. Encontrar essa rede aos poucos, no seu tempo, traz sensação real de pertencimento.
  • Comunicar seus limites e desejos: a liberdade cresce quando você pode expressar o que quer e o que não quer. Conversas sinceras protegem você e tornam os encontros mais prazerosos.
  • Escolher ambientes onde você se sinta visto: priorize espaços que valorizam sua identidade, não que reduzam sua sexualidade a fantasia ou julgamento.
  • Explorar o desejo com responsabilidade e curiosidade: descobrir o próprio corpo e o próprio prazer pode ser um processo bonito, leve e profundamente libertador.
  • Buscar apoio profissional quando necessário: terapia não é sobre “consertar” algo, mas sobre se conhecer melhor e reorganizar a autoestima para viver o desejo com mais tranquilidade.

A liberdade não é só poder viver o desejo. É poder viver sem medo de quem se é.

— Sanny Rodrigues, neuropsicanalista clínica

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