A Rede de Jornalistas Pretos Pela Diversidade na Comunicação (Rede JP) lançou a cartilha “Proteção Digital para Comunicadoras Negras na América Latina”, com o objetivo de combater a violência de gênero e raça contra comunicadoras na América Latina. O manual, disponível em português e espanhol, reúne estratégias, boas práticas e ferramentas para fortalecer a segurança digital, a integridade informacional e o enfrentamento da violência de gênero online.
Ataques online contra jornalistas negras
Um relatório da Federação Internacional de Jornalismo (IFJ) aponta que 38% das jornalistas latino-americanas relataram já ter sofrido ataques online relacionados ao gênero e ao trabalho. A discriminação e a violência racial, já enfrentadas no mundo offline, se intensificaram no ambiente digital, transformando as redes sociais em um campo de batalha constante.
Para combater essa realidade, a Rede de Proteção Digital para Comunicadoras Negras (REPCONE), uma iniciativa pioneira na América Latina, lançou a cartilha que une cibersegurança, acolhimento e proteção jurídica para jornalistas e comunicadoras negras, indígenas e quilombolas.
Lançamento durante evento na UnB
O lançamento ocorreu durante o evento “Resistir é Comunicar”, na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). O encontro reuniu jornalistas, ativistas, lideranças comunitárias, pesquisadoras e defensoras de direitos, incluindo representantes de organizações internacionais como a AfroColectiva, a Women’s March e o Comitê Global da Marcha das Mulheres Negras.
As jornalistas negras precisam de uma rede de segurança para conseguir trabalhar em um ambiente seguro, e as redes sociais não oferecem isso. As vozes dessas jornalistas precisam ser ouvidas dentro e fora das redações, e o objetivo da REPCONE com essa cartilha é fornecer as ferramentas necessárias para essas jornalistas reconhecerem os abusos, saberem como lidar com eles e ter os materiais didáticos adequados para denunciar essas violências.
— Marcelle Chagas, coordenadora de REPCONE e membro da Rede JP
Jornalismo negro como ferramenta de resistência
Além disso, o evento analisou a relação entre a mídia tradicional e as comunidades periféricas, destacando a ausência e distorção de narrativas que levam à marginalização dessas populações. Em contraponto, a conferência ressaltou o papel vital do jornalismo negro na descentralização e humanização das histórias, trazendo a perspectiva das populações negras e produzindo conteúdo que celebra a negritude e questiona estruturas racistas e coloniais. Nesse sentido, foi debatido o enfrentamento ao racismo estrutural dentro das redações e na cobertura, apresentado o jornalismo negro como uma ferramenta essencial para superar a injustiça informacional.
Palestrantes como a jornalista Jacira Silva (Cojira Brasília da Federação Nacional dos Jornalistas), Juliana Cézar Nunes (gerente de Jornalismo Digital na EBC), e Natália Purificação (coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ), destacaram a vulnerabilidade e a resistência de jornalistas negras, que enfrentam a violência política, racial e de gênero ao exercerem a profissão, inclusive dentro das próprias redações.






