A questão da produtividade tóxica no ambiente profissional e a necessidade de mais silêncio estratégico têm se tornado cada vez mais evidentes. A realidade é que o empresário não precisa de mais pressão, ainda que algumas pessoas lidem bem com ela. A era dos workaholics está em decadência, porque se percebeu que as doenças profissionais chegam quando o corpo ultrapassa seus limites psicobiológicos. A personalidade também pode ser um fator definitivo nos problemas ocupacionais.
A influência dos perfis psicológicos
Quando falamos de perfis tipológicos, a primeira lembrança é do estudo de Meyer-Briggs, como o teste do MBTI, no qual foram definidos 16 tipos de personalidades. Ele é um instrumento de autoavaliação que categoriza a personalidade nesta tipologia, com base nas preferências de um indivíduo em quatro pares opostos: energia (extroversão/introversão), percepção (sensação/intuição), tomada de decisão (pensamento/sentimento) e estilo de vida (julgamento/percepção).
O teste, baseado nas teorias de Carl Jung, é utilizado para melhorar o autoconhecimento e apoiar os processos de recursos humanos, como desenvolvimento de talentos e recrutamento. O MBTI (Myers-Briggs Type Indicator) é um questionário sobre o comportamento e as preferências diárias das pessoas.
Pressão versus necessidade
Alguns perfis tipológicos têm facilidade em trabalhar sob pressão, mas será que esses grupos sabem trabalhar sob pressão? Ou será que eles precisam trabalhar sob pressão?
Possivelmente, muitos até saibam, mas evitam pensar que não precisam. No entanto, é notório que se ‘vende’ muito no mercado cursos e treinamentos com coaches, nos quais a ‘venda’ dessa pressão é estimulada, porque, se não for assim, o trabalho não evolui. Por isso, inicializa-se a perpetuação de uma lógica padronizada, isto é, a de que todo mundo precisa de pressão.
A importância do silêncio estratégico
Do ponto de vista neurológico, nós temos vícios emocionais e de pensamento. Toda vez que são acionados, é como um rio seguindo seu curso natural. Para trilhar novos caminhos, são necessários processos que impactem sua geografia, como erosão e chuvas. Como escreveu o poeta João de Barros, “o rio sabe que seu destino é o mar, mas ele vive o percurso antes de chegar”.
Nosso interior procura caminhos mais fáceis, porque há uma economia de energia quando se mantém o mesmo padrão emocional. No caso da pressão, esta acaba se tornando essa via-padrão para boa parte dos empresários em nossos dias. Entretanto, aquilo que não é trabalhado é justamente o que é mais difícil: o silêncio.
Alguns megaempresários, como Bill Gates, retiram-se por uma semana em uma casa afastada. Steve Jobs também fazia um processo parecido, dando voltas em um lago na Califórnia. O que é de se lamentar é que poucos empresários buscam esse processo de ‘calma e silêncio’.
A medicina ayurvédica indiana entende que as pessoas adoecem por falta de silêncio, sono, alimentação e exercício físico. Em nossa interpretação, é difícil chegar ao silêncio, mas é mais fácil colocar pressão. Há uma cultura da pressão, em que se repete que “sem pressão o negócio não vai”, mas será mesmo?
Burnout e a busca pelo equilíbrio
O que mais tem ocorrido atualmente, nesse ciclo pós-pandemia, é o burnout, a Síndrome do Esgotamento Profissional, que, segundo o Ministério da Saúde, é uma condição emocional resultante de estresse prolongado no trabalho e que se manifesta por exaustão intensa, cinismo e diminuição da satisfação profissional.
Consequentemente, fica a incerteza se não estaríamos ajudando a perpetuar um sistema doente, perenizando um processo pelo qual procuramos menos o silêncio e mais a pressão, porque é um caminho mais fácil.
Essas influências negativas se repetem pelas limitações cognitivas. Eckhart Tolle, autor de O Poder do Agora, trata da questão do silêncio. Para ele, nossa mente fica viciada no processo de pensamento. Se colocássemos um observador analisando uma “mente poluída” se manifestando o tempo inteiro, como seria visto com mais distância?
Tolle apresenta uma terceira mente para observar os pensamentos e questiona como seria se todos conseguissem entender as próprias mentes com um botão de liga e desliga. Ele complementa que “eu não sou o que eu penso, eu sou o ser que observa o pensamento de fato”. A partir dessas premissas, ele propõe um novo caminho, esse silêncio tão ambicionado e o questionamento dessa pressão perturbadora e incessante.
Ocupado versus eficaz
Diante do novo momento, precisamos discutir a diferença entre estar ocupado e ser eficaz. Temos que entender como a agenda cheia é, muitas vezes, uma fuga da necessidade de fazer o trabalho mais difícil: parar, pensar e reorganizar o sistema interno.
O psicólogo e teólogo holandês Johannes Poelman, em seu livro Silêncio – Caminho para o mistério, reflete sobre o silêncio, que não se trata apenas de não falar e não pensar, mas de calar todas as vozes exteriores e interiores para, então, poder ouvir e seguir o Absoluto.
Silêncio é se afastar do modo de pensar e de agir a que estava acostumado; ter coragem de não mais trilhar caminhos conhecidos. É desapegar-me de tudo o que até agora fazia. É estar disposto para algo novo. Novas maneiras de pensar, de agir; estar aberto para algo desconhecido, esperar o novo, o divino tomar conta de si. É estar aberto para o modo divino de ser tornar-se o meu.
— Johannes Poelman, psicólogo e teólogo holandês
*Luis Amorim é CEO e fundador do Grupo Apolo, consultor de negócios com atuação em mais de 300 projetos comerciais, mentor de empresários e autor do livro “Guia do Empresário Profissional”.






