Insegurança no transporte onera empresas em até 18% no Brasil

Caminhão de carga parado na estrada, com luzes de emergência acionadas.

Imagem meramente ilustrativa.

O Fórum de Segurança no Transporte Rodoviário, parte da 24ª TranspoSul, debateu o aumento de roubos e furtos de cargas no Rio Grande do Sul. Especialistas e autoridades se reuniram no evento, realizado no Centro de Eventos FIERGS, em Porto Alegre.

Impacto financeiro da insegurança

A segurança no transporte consome até 18% do faturamento das empresas. Diante desse cenário, investimentos em tecnologia, monitoramento e gestão de risco tornam-se indispensáveis para enfrentar o roubo de cargas e proteger a competitividade do setor de transporte e logística.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Rio Grande do Sul (SETCERGS), Delmar Albarello, ressaltou a necessidade de maior apoio às forças policiais para enfrentar os desafios de segurança no transporte de cargas. Segundo ele, a atuação das corporações é muitas vezes limitada diante da reincidência criminal e da fragilidade das leis.

Precisamos pedir ajuda para fortalecer e ampliar os recursos das forças policiais. Sem esse suporte, o trabalho acaba se tornando um exercício de enxugar gelo, e o país inteiro perde com isso.

— Delmar Albarello, presidente do SETCERGS

Estratégias e desafios no combate ao crime

O Fórum trouxe para o debate representantes do setor privado, com moderação do assessor Ivanildo Santos, da Comissão de Segurança do SETCERGS. Em sua fala inicial, ele destacou que o transportador chega a gastar de 12% a 18% do faturamento apenas em proteção, e mesmo assim não elimina o risco, apenas dificulta a ação criminosa. Segundo ele, uma preocupação recente, além do roubo de cargas e caminhões, está no furto de equipamentos.

Módulos de veículos, como os de embreagem, podem custar até R$ 30 mil e serem levados em menos de dez minutos. Além disso, no caso do RS, temos uma preocupação adicional, que é a proximidade com fronteiras, o que facilita o escoamento para outros países. Muitos veículos roubados acabam sendo adulterados e retornam usados no tráfico de drogas.

— Ivanildo Santos, assessor da Comissão de Segurança do SETCERGS

O diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), delegado João Paulo de Abreu, ressaltou que a integração entre forças policiais, transportadores e empresários é fundamental para aumentar a segurança no setor logístico. Ele destaca que a troca de informações qualifica o trabalho de investigação criminal, garantindo a responsabilização dos autores de crimes.

A troca de informações permite qualificar o trabalho de investigação criminal e entregar resultados consistentes ao Poder Judiciário e ao Ministério Público, garantindo que autores de crimes sejam responsabilizados. Outro desafio está não apenas no direito penal, mas também no processual: precisamos que quem seja preso permaneça preso por tempo suficiente para evitar novos delitos. Quando a liberdade é concedida rapidamente, muitos reincidem e cria-se a sensação de enxugar gelo.

— João Paulo de Abreu, diretor do DEIC

Redução de roubos e furtos

De acordo com dados apresentados pela Polícia Civil, houve queda de 7,87% nos roubos a motoristas de entrega, na comparação de 2025 com 2024. Na modalidade de furtos, a redução foi ainda maior, chegando a 34%. A Polícia Civil do Rio Grande do Sul disponibiliza o canal direto para denúncias de furtos ou roubos pelo número 0800 510 2828.

Ações da Polícia Rodoviária Federal

O chefe da Seção de Inteligência da Polícia Rodoviária Federal no RS, André de Figueiredo D’Ávila, descreveu que a PRF enfrenta diariamente desafios complexos que comprometem tanto a segurança pública quanto a economia. Ele explica que o tráfico de drogas e armas abastece mercados ilegais, fortalece organizações criminosas e impacta diretamente as políticas públicas de saúde e segurança.

O tráfico de drogas e armas abastece mercados ilegais, fortalece organizações criminosas e impacta diretamente as políticas públicas de saúde e segurança. Já o roubo e furto de cargas causam prejuízos bilionários todos os anos, afetando a cadeia produtiva e elevando o custo de vida da população. Além disso, o contrabando e o descaminho geram concorrência desleal com a indústria nacional e provocam queda na arrecadação tributária, enfraquecendo a capacidade de investimento do Estado em áreas essenciais.

— André de Figueiredo D’Ávila, chefe da Seção de Inteligência da PRF-RS

A apresentação destacou pontos críticos como as BR-392, BR-386 e BR-290. Entre as cargas mais visadas estão soja, cigarros e alimentos (carnes, pescados e bebidas), segundo o especialista.

Para combater esse cenário complexo, a Polícia Rodoviária Federal adota uma estratégia de enfrentamento baseada em três pilares: Inteligência, com o uso de análise de dados para planejar operações de forma mais precisa e eficiente; Tecnologia, com a incorporação de ferramentas inovadoras que ampliam a capacidade de fiscalização; e Integração, por meio da cooperação com outras forças de segurança e órgãos de fiscalização. Essa abordagem dialoga diretamente com os eixos centrais debatidos na TranspoSul, onde inovação, gestão e segurança são tratados como fatores indissociáveis para o futuro do transporte e da logística.

Visão do Comando Rodoviário da Brigada Militar

Já o major Diego Caetano de Souza, do Comando Rodoviário da Brigada Militar, enfatizou o trabalho ostensivo nas estradas gaúchas. Ele destacou o investimento em sistemas de monitoramento por câmeras, salas de inteligência e ferramentas que permitem acompanhar o aumento do fluxo de veículos nas rodovias e agir com maior precisão.

Investimos em sistemas de monitoramento por câmeras, salas de inteligência e ferramentas que nos permitem acompanhar o aumento do fluxo de veículos nas rodovias e agir com maior precisão. A criminalidade tem sido enfrentada com inteligência e capacidade investigativa ampliada, mas também com foco na prevenção.

— Diego Caetano de Souza, major do Comando Rodoviário da Brigada Militar

Aspectos Jurídicos e Seguros

O painel seguinte contou com especialistas da área jurídica e de seguros. Carolina Rosiak Lemes, do jurídico da Apisul, lembrou que o setor de transporte de cargas é regido por um conjunto de legislações específicas além do Código Civil e do Código de Trânsito. Entre elas, estão a Lei 10.209/2001, que trata do vale-pedágio obrigatório; a Lei do Motorista (2015), que define regras de jornada e descanso; e a Lei 13.703/2018, que estabelece o piso mínimo do frete. Mais recentemente, em 2023, foi criado o seguro obrigatório de transporte, complementado por normas anteriores, como o ajuste de 2007 ligado ao Ministério da Fazenda.

É fundamental que os empresários estejam atentos a todas essas questões, que são atualizadas de forma muito constante.

— Carolina Rosiak Lemes, do jurídico da Apisul

Marcos Silva, da W4 Consulting, apresentou ações estratégicas do programa de prevenção de acidentes no transporte rodoviário que têm mostrado avanços além da redução de ataques e do aumento nas recuperações de cargas. Segundo ele, os resultados também se refletem na melhoria do nível de serviço prestado pelas empresas do setor.

Por fim, Diego Degan, da Seguros Sura, mostrou dados estatísticos do seguro no transporte rodoviário e lembrou que ele não é impactado apenas pelos roubos de carga, mas também pelos acidentes, que elevam significativamente os custos. Nos últimos cinco anos, o setor registrou R$ 9 bilhões em indenizações relacionadas a roubos e acidentes. Em 2024, foram contabilizados 73 mil acidentes, um crescimento de quase 9% em relação a 2023, além de 6.153 mortes no trânsito, número 10% maior que no ano anterior.


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