Nos últimos anos, a verificação de identidade digital, baseada na captura de documentos e selfies, ganhou espaço como sinônimo de modernidade e segurança. Bancos digitais e e-commerce adotaram essa tecnologia para agilizar o onboarding e reduzir atritos.
No entanto, é crucial reconhecer que o ID&V, embora essencial, não é a solução definitiva contra fraudes sofisticadas. A crença de que um documento digitalizado e uma prova de vida sejam suficientes para atestar a identidade de alguém é uma simplificação perigosa.
Aumento de fraudes e identidades sintéticas
A identidade se tornou a nova moeda, mas os sistemas atuais apresentam falhas. Somente em 2024, as perdas com fraudes atingiram US$ 12,5 bilhões, um aumento de 25% em relação ao ano anterior, segundo a Federal Trade Commission (FTC) dos Estados Unidos. De deepfakes a identidades sintéticas, fraudadores exploram brechas em documentos bancários, criptomoedas e documentos de identidade emitidos por governos.
No Brasil, em 2024, o e-commerce registrou prejuízos de aproximadamente R$ 7,5 bilhões, enquanto as fraudes via Pix aumentaram 70%, totalizando R$ 4,9 bilhões. Além disso, o número de crimes digitais cresceu 45% em relação ao ano anterior, com cerca de 5 milhões de ocorrências. Os dados são da Serasa Experian, Security Leaders e ADDP.
Ainda segundo a Serasa Experian, em 2025, mais da metade dos brasileiros relataram ter sido vítima de algum tipo de fraude, e 20% perderam até R$ 5 mil.
Nesse sentido, a verificação única no onboarding não garante proteção contínua, já que contas legítimas podem ser sequestradas. A ausência de inteligência contextual nos processos de ID&V agrava o problema, pois documentos e selfies são analisados isoladamente.
O resultado é que muitos fraudadores escapam, causando prejuízos financeiros, danos à reputação e perda de confiança.
Múltiplas camadas de proteção
A resposta não é descartar a verificação digital, mas complementá-la com uma estratégia de múltiplas camadas:
- Orquestração de dados: integrar informações de diferentes fontes, como crédito, dispositivos e histórico.
- Modelos de machine learning avançados: identificar padrões sutis de fraude, incluindo esquemas de identidades sintéticas.
- Decisão em tempo real: equilibrar experiência do cliente e mitigação de riscos rapidamente.
- Análise contínua de clientes: acompanhar o comportamento ao longo do tempo, não apenas no cadastro.
O futuro da segurança digital
A verificação de identidade digital continua sendo uma peça importante. No entanto, diante da sofisticação dos fraudadores, tratá-la como solução única é insuficiente. É como verificar o passaporte de um passageiro no embarque, mas nunca escanear sua bagagem.
A verdadeira defesa está em estratégias adaptáveis, inteligentes e integradas, que unem tecnologia, dados e contexto para antecipar ameaças. Somente assim as empresas poderão proteger seus ativos, reduzir perdas e fortalecer a confiança na economia digital.
A verificação de identidade digital continua sendo uma peça importante do quebra-cabeça, mas é preciso ir além para garantir a segurança.
— Jason Abbott, Diretor de Soluções de Fraude da Provenir