A Inteligência Artificial (IA) se consolidou no mundo corporativo, transformando a forma como as empresas operam. Contudo, o debate central não é o impacto da tecnologia nos empregos, mas sim a nossa reação a essa mudança. Há quem tema a substituição, enquanto outros veem uma oportunidade para expandir as competências humanas. Nesse cenário, a requalificação surge como um novo código de liberdade.
O renascimento das competências humanas
De acordo com o Future of Jobs Report 2023 do Fórum Econômico Mundial, 40% das habilidades atuais serão irrelevantes até 2027. Isso significa que quase metade do que aprendemos precisará ser reaprendido em menos de cinco anos. A pesquisa Microsoft & LinkedIn Work Trend Index 2024 reforça essa urgência: 82% dos líderes acreditam que seus funcionários precisarão desenvolver novas habilidades relacionadas à IA nos próximos dois anos.
Entretanto, apenas 39% das empresas têm planos estruturados de requalificação. Essa desconexão é evidente e, quem não se adapta para aprender, corre o risco de se tornar obsoleto.
Competências integradas: a chave para o futuro
Além de dominar ferramentas, o futuro exige o desenvolvimento de competências integradas, unindo o raciocínio técnico com atributos humanos como empatia, criatividade e pensamento crítico. Segundo o Fórum Econômico Mundial, as três habilidades mais importantes até 2027 serão o pensamento analítico, o aprendizado contínuo e a resiliência.
Em outras palavras, a plasticidade cognitiva — a disposição de aprender, desaprender e reaprender — é a nova moeda de valor no mercado global.
Resistência à mudança e a importância da capacitação
Apesar disso, muitos profissionais ainda veem a IA como uma ameaça, e não como uma parceira. Essa visão é reforçada por líderes que delegam a transformação à tecnologia, sem preparar suas equipes. A McKinsey Global Survey 2024 revela que 64% das empresas já utilizam ou testam soluções de IA generativa, mas menos da metade investe na capacitação de seus colaboradores.
Este cenário demonstra um equívoco: a inovação depende tanto de algoritmos quanto de mentes preparadas para interpretá-los e aplicá-los de forma eficaz.
A inovação não depende apenas de algoritmos, mas de mentes preparadas para interpretá-los e aplicá-los com propósito.
— Éric Machado, CEO da Revna Tecnologia
O caso brasileiro: um déficit de talentos
No Brasil, o desafio é ainda mais estrutural. A Brasscom estima que o país precisará de cerca de 797 mil novos profissionais de tecnologia até 2025, mas forma menos da metade desse total a cada ano. O déficit de talentos não será resolvido apenas com contratações, mas com requalificação massiva.
Nesse contexto, empresas que criarem ecossistemas de aprendizado contínuo sairão na frente. A Deloitte Human Capital Trends 2024 aponta que 92% dos executivos consideram a cultura de aprendizado essencial para o sucesso organizacional, mas apenas 40% a implementaram de fato.
Requalificação como ato de liberdade
Portanto, requalificar-se é um ato de liberdade, uma escolha consciente de permanecer relevante em um mundo em constante transformação. A IA está redefinindo o valor do trabalho, automatizando o que é previsível e valorizando o que é singularmente humano.
O futuro não pertencerá aos mais tecnológicos, mas aos mais adaptáveis, aqueles que compreendem que aprender é o novo trabalhar. Em um cenário onde as máquinas calculam, mas não sonham, o conhecimento será o último território da liberdade.