Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciam atrocidades e assassinatos em massa que ocorreram recentemente em El Fasher, no Sudão. A organização expressa preocupação com a segurança de milhares de civis, que estariam sendo impedidos de buscar refúgio em áreas mais seguras.
Cenário de horror em El Fasher
Desde 26 de outubro de 2025, quando El Fasher foi tomada pelas Forças de Apoio Rápido (RSF), equipes do MSF em Tawila, a 60 km da linha de frente, preparam-se para atender um grande número de deslocados e feridos.
Nos últimos meses, muitas pessoas buscaram refúgio em Tawila após o aumento da violência em El Fasher. A cidade, que tinha cerca de 260 mil habitantes até agosto, viu sua população drasticamente afetada pelo conflito. Contudo, nos últimos cinco dias, apenas 5 mil pessoas conseguiram chegar a Tawila, segundo agências humanitárias.
Essas pessoas relataram ter presenciado massacres e que muitos civis estão presos, sendo submetidos a tortura, sequestros, violência sexual e execuções sumárias em El Fasher e arredores.
Relatos de atrocidades
Michel Olivier Lacharité, coordenador de emergências de MSF, questiona o paradeiro dos desaparecidos: “Onde estão todas as pessoas que já sobreviveram a meses de fome e violência em El Fasher?”
Com base no que os pacientes nos dizem, a resposta mais provável, embora assustadora, é que as pessoas estão sendo mortas, aprisionadas e perseguidas ao tentar fugir. Pedimos urgentemente às RSF e aos grupos aliados que poupem os civis e permitam que eles se desloquem para áreas seguras. Também apelamos para que todas as partes diplomáticas interessadas usem sua influência para parar o banho de sangue.
— Michel Olivier Lacharité, coordenador de emergências de MSF
Desnutrição e violência marcam a fuga
Entre 26 e 28 de outubro, recém-chegados de El Fasher, principalmente mulheres, crianças e idosos com desnutrição, foram levados a Tawila de caminhão. Outros viajavam a pé, escondendo-se para evitar homens armados.
Todas as 70 crianças menores de 5 anos que chegaram a Tawila no dia 27 de outubro estavam com desnutrição grave, sendo que 57% delas apresentavam desnutrição aguda grave. No dia seguinte, a equipe do MSF examinou 120 homens e constatou que 20% deles também sofriam de desnutrição aguda grave.
Testemunhas relataram que um grupo de 500 civis e soldados tentou fugir no dia 26 de outubro, mas a maioria foi morta ou capturada pelas RSF e seus aliados. Os sobreviventes disseram que as pessoas foram separadas por sexo, idade ou grupo étnico, e muitas foram mantidas como reféns, com pedidos de resgate.
Atendimento emergencial
Entre 26 e 29 de outubro, o MSF recebeu 396 feridos e tratou mais de 700 pessoas recém-chegadas de El Fasher no centro de emergência do hospital. Livia Tampellini, coordenadora-adjunta de emergências de MSF, detalha os ferimentos:
Os principais ferimentos dos pacientes que estão em tratamento são lesões causadas por armas de fogo, fraturas e outras feridas ligadas a espancamentos e tortura. Alguns têm feridas infectadas ou complicações de procedimentos cirúrgicos já realizados em El Fasher em meio a condições desesperadoras.
— Livia Tampellini, coordenadora-adjunta de emergências de MSF
O MSF montou um posto de saúde na entrada de Tawila e ampliou a oferta de cuidados de emergência no hospital. A maioria dos profissionais sudaneses de MSF em Tawila tem familiares que foram mortos em El Fasher durante a semana.
Diante da situação, Tampellini enfatiza a necessidade urgente de cuidados médicos, nutricionais e apoio psicossocial para os sobreviventes. “Não há mais tempo a perder para ajudar outros sobreviventes, eles precisam ter permissão para se deslocar para áreas mais seguras e receber assistência vital”, conclui.






