O Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) lança a campanha “Você está pronto para viver mais?”, em alusão ao Novembro Azul, conectando conscientização a novas evidências científicas sobre o rastreamento do câncer de próstata. Um estudo europeu recente, publicado no New England Journal of Medicine, acompanhou 162 mil homens por 23 anos e revelou que o rastreamento com PSA pode reduzir em 13% a mortalidade pela doença. No Brasil, desafios culturais e de acesso ainda impedem diagnósticos precoces.
Conscientização e quebra de tabus
A campanha do IUCR busca alterar comportamentos e romper preconceitos que afastam muitos homens dos cuidados básicos com a saúde. Estar pronto para viver mais, segundo a campanha, é se responsabilizar pelo futuro e pelas pessoas que se ama. O foco está em transformar conhecimento em ação, incentivando a marcação de consultas e a realização de exames preventivos.
Esse chamado está alinhado com a ciência. A pesquisa publicada no The New England Journal of Medicine demonstrou que o rastreamento com exame de PSA pode reduzir a mortalidade por câncer de próstata. O benefício é ainda mais evidente quando o rastreamento faz parte de um modelo organizado, com acompanhamento médico contínuo.
Diagnóstico tardio ainda é um problema no Brasil
No Brasil, entretanto, muitos diagnósticos ainda são feitos tardiamente, o que aumenta o risco de tratamentos mais agressivos e a perda de qualidade e expectativa de vida. O urologista e cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, diretor do IUCR, explica que superar a inércia e os tabus é fundamental para viver mais e com qualidade.
Acho que tem havido melhora na relação do público masculino com alguns tabus, como o exame de toque retal. No entanto, ainda temos um caminho a trilhar. Não seria exagero inferir que o diagnóstico de doença avançada seja um dos fatores do crescimento do percentual estimado de mortalidade.
— Gustavo Guimarães, urologista e cirurgião oncológico
A importância da prevenção e do diagnóstico precoce
O câncer de próstata geralmente não apresenta sintomas em suas fases iniciais. Quando os sinais surgem, como dificuldade ou ardência ao urinar, dor lombar contínua ou sangue na urina, a doença já pode estar em estágios mais avançados. Contudo, quando o tumor é identificado cedo, as taxas de cura são superiores a 90%.
O rastreamento, segundo Guimarães, não deve se limitar apenas ao PSA. Mesmo com o PSA normal, até 25% dos homens podem ter um nódulo suspeito identificado pelo toque retal. A combinação dos exames é a estratégia mais segura e eficaz.
Recomendações e fatores de risco
As recomendações atuais consideram fatores de risco individuais. Homens sem histórico familiar devem conversar com seu urologista sobre o rastreamento a partir dos 50 anos. Já aqueles com pai ou irmão com câncer de próstata precisam começar por volta dos 45. Homens negros, grupo mais vulnerável à doença, podem precisar iniciar aos 40 anos. Em todos os casos, a avaliação clínica personalizada define o melhor caminho.
Tratamentos e qualidade de vida
O tratamento, quando necessário, é individualizado. A medicina moderna oferece opções que equilibram eficácia e qualidade de vida, como cirurgia robótica, radioterapia de alta precisão, ultrassom focal, hormonioterapia e até vigilância ativa para tumores indolentes. Avanços tecnológicos também reduziram impactos como incontinência urinária e disfunção erétil.
A incontinência urinária tem diminuído muito, principalmente pela evolução das técnicas cirúrgicas e de radioterapia. E existem tratamentos para reverter ou melhorar quando necessário.
— Gustavo Guimarães, urologista e cirurgião oncológico
Prevenção primária e hábitos saudáveis
Embora o envelhecimento e a herança genética sejam fatores importantes, um conjunto de fatores modificáveis associados ao risco da doença reforça o papel da prevenção primária. Manter o peso adequado, adotar uma alimentação rica em frutas, verduras, legumes e fibras, reduzir o consumo de gorduras saturadas e carnes processadas e evitar o tabagismo contribuem para diminuir a inflamação sistêmica e preservar o equilíbrio hormonal.
Além disso, a prática regular de atividade física favorece um sistema imunológico mais eficiente, auxiliando no controle de doenças metabólicas que também se associam ao risco oncológico. O consumo moderado de álcool e a atenção à saúde mental também são importantes.
Hábitos saudáveis ajudam na prevenção dessas doenças, dos problemas cardiovasculares e até na saúde mental.
— Gustavo Guimarães, urologista
Novembro Azul: atenção também para câncer de pênis e testículo
A campanha do IUCR também chama a atenção para os cânceres de pênis e de testículo, doenças oncológicas que afetam exclusivamente homens e que ainda têm pouca visibilidade. A maioria dos casos de câncer de pênis está associada à falta de higiene íntima, à infecção por HPV e à fimose não tratada. A simples adoção de hábitos de cuidado diário, uso de preservativo e vacina contra HPV poderia reduzir o número de casos.
O câncer de testículo, por sua vez, é mais frequente em homens jovens, entre 15 e 35 anos, e tem altas taxas de cura quando diagnosticado precocemente. A atenção ao próprio corpo é determinante: alterações como nódulos endurecidos, dor persistente ou aumento do volume testicular devem motivar consulta imediata ao urologista.
No Novembro Azul, acreditamos ser muito importante incluir os cânceres de pênis e testículo, alertando para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dessas doenças. A saúde masculina deve ser vista como um todo e não reduzida a um órgão específico.
— Gustavo Guimarães, urologista
Responsabilidade compartilhada
Ao conectar o rigor científico do estudo europeu com a realidade brasileira e os objetivos da campanha, o IUCR busca um pacto social de autocuidado. Consultas regulares ao longo da vida são fundamentais para prevenir doenças e promover qualidade de vida.
O homem deve ser protagonista da sua saúde. Deve tomar as rédeas para ter uma vida melhor. Estar pronto é ter atitude. É sobre autorresponsabilidade e preservar a vida.
— Gustavo Guimarães, urologista




