Mesmo com o amadurecimento do ecossistema de inovação, o planejamento financeiro ainda é um dos principais gargalos das startups brasileiras. Levantamento do Distrito e da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) mostra que apenas 17% das startups realizam algum tipo de planejamento financeiro estruturado antes de buscar rodadas de captação. A ausência dessa etapa tem relação direta com a alta taxa de mortalidade do setor: cerca de 65% das startups encerram suas atividades antes de completar cinco anos, segundo dados do IBGE.
Foco no produto, negligência no caixa
De acordo com Marilucia Silva Pertile, cofundadora da Start Growth e mentora de startups, a falta de preparo financeiro é uma das causas mais recorrentes de insucesso nas rodadas de investimento.
Muitos empreendedores focam no produto e na tecnologia, mas deixam de planejar o básico: como sustentar a operação e gerar caixa previsível após o aporte. Sem isso, o capital captado se transforma em combustível para uma corrida sem direção — afirma Marilucia Pertile, cofundadora da Start Growth.
Gestão ineficiente do capital
Relatório da CB Insights, que analisou mais de 110 startups que falharam globalmente, aponta que 38% dos negócios quebram por falta de capital ou má gestão financeira — a segunda causa mais comum de fracasso, atrás apenas da ausência de demanda de mercado.
Para Pertile, o problema se repete no Brasil, onde a maioria das startups ainda carece de processos internos para controlar custos, definir runway (tempo de sobrevivência do caixa) e mensurar indicadores como CAC e LTV.
O empreendedor capta, mas não define gatilhos de crescimento. Gasta com contratações, ferramentas ou marketing sem validação. Quando percebe, o caixa acabou e o negócio ainda não provou tração — observa.
Além disso, ela acrescenta que o erro mais comum é confundir capital de risco com fôlego ilimitado. “O dinheiro do investidor deve servir para testar e acelerar hipóteses que já deram certo, não para cobrir a falta de gestão. Planejar o uso dos recursos é parte essencial da maturidade empreendedora”, completa.
O alto custo da falta de planejamento
Segundo estudo da Endeavor e da Ernst & Young (EY), apenas 23% das startups brasileiras possuem controles financeiros mensais estruturados. O dado é ainda mais baixo entre empresas em fase inicial, em que a gestão de caixa é feita de forma informal ou reativa.
A falta de planejamento reflete em um dado preocupante: 73% dos empreendedores afirmam não saber com precisão por quanto tempo sua empresa sobreviveria sem novo aporte, segundo pesquisa do Distrito. Essa incerteza compromete a previsibilidade do negócio e a confiança de investidores, que buscam clareza sobre o retorno do capital investido.
Mentalidade para o futuro
Para Marilucia Pertile, a mudança necessária é cultural.
O mercado está mais exigente. Investidores querem ver governança, previsibilidade e clareza sobre o destino de cada real. Até 2026, as startups que não tratarem suas finanças com o mesmo rigor que tratam o produto terão dificuldade de acessar capital — afirma.
A especialista defende que o planejamento financeiro seja incorporado desde o primeiro ciclo operacional, ainda antes da busca por rodadas. “A startup precisa chegar à mesa do investidor com números claros sobre custo de aquisição, margem bruta, projeção de receita e tempo de runway. É isso que dá confiança e diferencia uma boa ideia de um bom negócio”, conclui.






