O caso do Louvre, que veio à tona após um assalto milionário em outubro de 2025, reacendeu o debate global sobre segurança digital. Na ocasião, ladrões levaram joias da coroa francesa avaliadas em cerca de 100 milhões de dólares. O incidente expôs a fragilidade da segurança digital, mesmo em instituições renomadas, com um sistema de videovigilância que utilizava a senha “Louvre”.
Afinal, qual a importância da segurança digital?
Para Mirella Kurata, CEO da DMK3, o caso demonstra que não há tecnologia capaz de proteger uma organização que não prioriza a segurança em sua estratégia e cultura. “A tentação de delegar à tecnologia toda a responsabilidade pela cibersegurança é um erro comum”, afirma.
No entanto, o caso do Louvre mostra o contrário, ao contrapor a proteção mais avançada do mundo com uma senha previsível e uma equipe sem treinamento contínuo sobre boas práticas. Entre piadas e incredulidade, esse episódio rendeu questionamentos dos internautas sobre os padrões de senhas complexas adotados por muitos sites e aplicativos, já que nem o Louvre faz isso.
A negligência digital independe de tamanho, prestígio ou poder econômico. No dia a dia, o impacto de uma senha fraca pode ser a perda de dados pessoais, de uma conta bancária ou até da própria identidade digital. A cibersegurança é, antes de tudo, comportamental e depende da conscientização, disciplina e responsabilidade compartilhada.
Criar uma cultura de segurança é tão importante quanto investir em firewalls, sistemas de detecção ou inteligência artificial.
— Mirella Kurata, CEO da DMK3
Infraestrutura digital obsoleta
Outro ponto exposto pelo episódio do Louvre é o impacto da infraestrutura obsoleta. O museu mantinha parte de sua operação em servidores de 2003, uma prática ainda comum em muitas instituições públicas e privadas ao redor do mundo. Sistemas legados não são, por si só, o problema, mas sim eles permanecerem conectados a ambientes críticos sem as devidas camadas de proteção, atualização ou segmentação.
O desafio é encontrar o equilíbrio entre continuidade operacional e modernização segura, e isso exige planejamento técnico e visão de longo prazo.
A barreira tênue entre o físico e o digital
Apesar de muitos ainda separarem o âmbito físico do digital, no Louvre foi a falha cibernética que facilitou o roubo dos objetos, reforçando o quanto essa fronteira de espaços está cada vez mais tênue. Hoje, câmeras, sensores, catracas e sistemas de alarme estão todos conectados às redes digitais e basta uma brecha de senha ou configuração mal feita para comprometer toda uma operação de segurança.
Essa integração, porém, exige que as equipes de tecnologia e de segurança patrimonial atuem de forma conjunta, compartilhando responsabilidades e informações em tempo real.
Alerta para o setor público brasileiro
No Brasil, o caso do Louvre serve de alerta especialmente para o setor público. Prefeituras, órgãos governamentais, escolas e hospitais ainda operam, em muitos casos, com sistemas antigos, acessos compartilhados e ausência de protocolos de cibersegurança. Por lidarem com dados sensíveis, de cidadãos, servidores e serviços essenciais, essas instituições são alvos frequentes de ataques, muito também porque costumam subestimar os riscos.
Proteger o setor público envolve muito mais que só senhas fortes, inclui também planejamento orçamentário, capacitação de equipes e políticas de cibersegurança que não se limitem à área de TI, mas que envolvam gestores, comunicadores e servidores em todos os níveis.
Mais do que evitar incidentes, investir em segurança é agregar valor à instituição e seus serviços e produtos. Cada medida de proteção adotada, seja uma senha forte, um sistema atualizado ou uma equipe bem treinada, é um ativo intangível que preserva reputação, credibilidade e continuidade de negócios.
No Louvre, as joias roubadas foram avaliadas em milhões, mas o verdadeiro prejuízo foi institucional com a perda da confiança pública e o abalo à imagem de um dos ícones culturais global. Em um ambiente corporativo e governamental o princípio é o mesmo, com a segurança digital sendo uma questão de cultura, um dos ativos mais valiosos que uma organização pode ter.






