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Desastres naturais: desafio aumenta após a chuva, diz especialista

Desastres naturais: desafio aumenta após a chuva, diz especialista

Após um desastre natural, o foco se volta para os desafios de reconstrução e resiliência. Ana Clara Fonseca, membro sênior da IEEE e da International Society of Emergency Manners, além de voluntária do time de disaster relief da Red Cross Utah (USA), ressalta que o verdadeiro impacto dessas catástrofes se manifesta quando o silêncio retorna.

O aumento da frequência de desastres climáticos

Nas últimas semanas, o ciclone extratropical que atingiu o Sul e o Sudeste do Brasil expôs a vulnerabilidade do país aos extremos climáticos. O fenômeno causou ventos de mais de 100 km/h e chuvas intensas, impactando diversos estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Destelhamentos, deslizamentos, bloqueios de rodovias e quedas de energia afetaram milhares de pessoas.

O episódio ocorreu menos de um ano após as enchentes históricas no Rio Grande do Sul em 2023, quando cidades inteiras ficaram submersas. A recorrência desses desastres indica que o Brasil enfrenta uma nova era climática, mais instável e perigosa.

Ações emergenciais e a necessidade de planejamento

A atuação da Defesa Civil e dos governos estaduais tem seu valor. No entanto, questiona-se até quando essas ações serão apenas emergenciais. A cada catástrofe, o país vivencia um ciclo de comoção seguido de esquecimento. Quando as águas baixam, o planejamento desaparece.

A Organização Meteorológica Mundial (WMO) e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertam que o planeta está próximo de ultrapassar o limite de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, um ponto crítico do Acordo de Paris. O relatório da WMO indica que os últimos 12 meses foram os mais quentes da história, com média global 1,6 °C acima da era pré-industrial.

Esse aumento intensifica tempestades, secas, eleva o nível dos oceanos e potencializa fenômenos como ciclones extratropicais. O que antes era exceção se torna regra, e o Brasil, com sua vasta área e infraestrutura desigual, sente esses impactos intensamente.

A importância da ajuda humanitária organizada

Nesse contexto, a ajuda humanitária deve ir além do improviso e se basear em um sistema coordenado. Isso envolve logística precisa, gestão de recursos, distribuição equitativa e integração entre Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Cruz Vermelha, agências da ONU e organizações locais. Essa coordenação transforma solidariedade em efetividade.

Essa atuação deve ser guiada pelos pilares do Direito Internacional Humanitário:

  • Humanidade: priorizar a vida e a dignidade das pessoas.
  • Imparcialidade: garantir que a ajuda alcance todos, sem distinção.
  • Neutralidade: manter a confiança das populações e evitar interferências políticas.
  • Independência: assegurar que o auxílio não dependa de agendas governamentais.

A solidariedade precisa ser organizada, profissional e constante, guiada por dados, planejamento e preparo.

Agir antes da próxima sirene

A especialista Ana Clara Fonseca expressa sua preocupação com o tratamento dos desastres como eventos isolados, quando já fazem parte de uma rotina climática global. “É hora de agir antes da próxima sirene”, afirma. Ela defende o investimento em educação sobre riscos, infraestrutura resiliente, planos de evacuação eficientes e políticas públicas permanentes de adaptação climática.

Os desafios enfrentados no Sul e Sudeste se repetem em outras regiões. No Norte, a seca ameaça comunidades ribeirinhas; no Nordeste, as chuvas provocam deslizamentos. Na América Latina e na África, milhões enfrentam crises silenciosas.

Quando as câmeras se vão e a lama seca, é aí que se mede o quanto o país realmente aprendeu. Reconstruir não é apenas levantar paredes ou trocar telhados: é reerguer a noção de humanidade e transformá-la em resiliência coletiva.

— Ana Clara Fonseca, membro sênior da IEEE

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