A música tem o poder de abrir horizontes e transformar vidas. No Brasil, projetos de educação musical gratuitos oferecem a milhares de crianças, jovens e adultos a oportunidade de aprender instrumentos, ter aulas com professores qualificados, conviver com artistas renomados e se apresentar em palcos importantes. Essas iniciativas se tornaram verdadeiros celeiros de talentos, formando músicos que hoje se destacam no cenário nacional e internacional.
A força da educação musical gratuita
Histórias como a da cantora e compositora Vanessa Moreno, da violonista Gabriele Leite e da cantora lírica Lorena Pires mostram que a excelência não precisa ser um privilégio. Quando democratizada, a educação musical gratuita se revela um caminho potente para a inclusão social, o desenvolvimento artístico e a cidadania.
O Projeto Guri e o Conservatório de Tatuí
Considerada um dos grandes talentos da música instrumental da atualidade, a violonista Gabriele Leite teve seu primeiro contato formal com a música no Projeto Guri. No programa de educação musical gratuito para jovens, ela aprendeu sobre postura e leitura de partituras. Posteriormente, integrou o Conservatório de Tatuí, também gratuito.
Eu cheguei no Conservatório de Tatuí com 11 anos de idade e comecei a me aprofundar no violão e em matérias como teoria, percepção e coral, me tornando bolsista nos dois últimos anos de curso. A minha rotina era: escola pela manhã e Conservatório à tarde.
Gabriele destaca a importância do professor Jair Teodoro de Paula, que a incentivou a acreditar em seu potencial artístico. Após se formar no Conservatório de Tatuí, foi aprovada para estudar música na UNESP e venceu três importantes concursos no Brasil: Souza Lima, Musicalis e Assovio Vertentes. Em seguida, foi convidada para um festival na Alemanha e incluída na lista Forbes Under 30 de 2021.
Mais tarde, Gabriele fez mestrado na Manhattan School of Music, nos Estados Unidos, tornando-se a primeira mulher preta brasileira formada na instituição. Atualmente, cursa doutorado na Stony Brook University. Após lançar seu primeiro disco, Territórios (2023), iniciou uma turnê pelo Brasil e se apresentou no Theatro Municipal de São Paulo.
Inclusão e visibilidade internacional
Outra artista que ganhou destaque internacional é a cantora lírica Lorena Pires, de 25 anos e descendente de quilombolas. Lorena foi aprovada para integrar a Academia de Ópera de Paris, sendo a primeira brasileira a alcançar esse feito.
Fazer parte deste seleto grupo de artistas residentes é uma responsabilidade que carrego com muita honra e alegria. Adentrar esse espaço com tudo que sou, enquanto artista, vai ser uma experiência muito linda de concretizar. Por isso, sou muito grata a toda a rede de apoio que tive ao longo desses anos.
Lorena começou a estudar música no ensino médio e, em 2019, iniciou o bacharelado em Música com habilitação em Canto na Faculdade de Música do Espírito Santo (FAMES), onde teve aulas com o professor Licio Bruno. Em 2023, venceu o Concurso de Canto Lírico Joaquina Lapinha, promovido pela Sustenidos, destinado a solistas pretos, pardos e indígenas.
Além do prêmio em dinheiro, Lorena integrou o elenco da temporada de 2024 no Theatro Municipal de São Paulo. Através do concurso, conheceu o maestro Alessandro Sangiorgi e a maestra Priscila Bomfim, que a ajudaram a conseguir uma audição no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Posteriormente, apresentou-se no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e realizou trabalhos no Uruguai e no Chile.
Retribuição e transformação
Outro exemplo inspirador é a cantora e compositora Vanessa Moreno, considerada uma das vozes mais marcantes da música brasileira contemporânea. Ex-aluna do Projeto Guri, ela já se apresentou com artistas renomados como Edu Lobo, Mônica Salmaso, Maria Gadú e Criolo.
Com quase duas décadas de carreira, Vanessa decidiu retribuir o que recebeu. Recentemente, conduziu oficinas para estudantes do Musicou, programa de educação musical presente em cinco estados do Brasil, e foi convidada especial para cantar em um espetáculo do Conservatório de Tatuí. A artista destaca a importância do acesso gratuito e de excelência que teve no início de sua formação.
Se não fossem esses projetos, eu não estaria aqui hoje, podendo cantar com a Big Band do Conservatório de Tatuí ou compartilhar minhas vivências com os jovens do projeto Musicou. Quando sou convidada a participar desses coletivos, eu me vejo nos alunos e sei o quanto cada pedacinho disso é importante.
Além do aprendizado técnico, Vanessa ressalta o poder de horizontalizar a música, transformando palcos e salas de aula em espaços de troca e crescimento mútuo. A artista enfatiza a importância de mostrar aos alunos que todos têm seu espaço, seja no palco ou na sala de aula, para a construção de uma sociedade mais plural e consciente.






