Um olhar íntimo sobre relações humanas, memórias e segredos familiares. Em “Retratos no Espelho”, o escritor José Cristovam oferece uma experiência literária com o ritmo envolvente de uma produção cinematográfica. Construída inteiramente em diálogos profundos, a trama começa quando um psicólogo decide revisitar um caso que marcou sua carreira: o da família Lebazi Estevam. A partir de lembranças, a narrativa não linear leva o leitor a diferentes épocas, dos anos 1960 ao início de 2020. Momentos importantes na trajetória de diversos personagens se sucedem como as cenas de um filme.
A trama familiar em diálogos
Os diálogos retratam eventos decisivos na vida dos Lebazi Estevam, como conflitos no casamento, tensões entre pais e filhos e expectativas frustradas. Além disso, a obra também mostra reencontros inesperados e mágoas que atravessam décadas. Em cada conversa, fragmentos do passado surgem e ajudam o público a montar um “quebra-cabeça” dessa história familiar, a fim de desvendar as camadas emocionais que moldam o presente dos protagonistas.
O autor também traz reflexões sobre temas universais: traumas do passado na formação adulta, os limites da culpa, a urgência da reconciliação e a busca por sentido diante de perdas. O amor e a amizade permeiam todas as falas do livro, nas relações desgastadas, mas também nas que resistem ao tempo.
Jô, eu concordo que o amor muda as pessoas, mas só as pessoas que amam de verdade.
— José Cristovam, autor de “Retratos no Espelho”
Trilha sonora integrada
A obra, que se passa na região do ABC paulista, não traz descrições detalhadas dos protagonistas ou cenários. O formato dialogado estimula a imaginação, convida o leitor a ocupar o centro do enredo, imaginar rostos e preencher as pausas das interlocuções com as próprias emoções. Outro diferencial é a trilha sonora integrada com QR codes. Canções como “Exagerado”, de Cazuza, “Se eu quiser falar com Deus”, de Gilberto Gil, “Como uma onda”, de Lulu Santos, “Eduardo e Mônica”, do Legião Urbana, e “Caso Sério”, de Rita Lee, acompanham os sentimentos expressos em cada cena, reforçando a experiência sensorial.
Um filme escrito
Ao apostar em um “filme escrito”, como José Cristovam descreve o livro, “Retratos no Espelho” avança e recua apenas pelas vozes dos personagens, e permite que o leitor viva cada cena com intensidade, sem interrupções de capítulos ou narradores. O resultado é um romance que se lê como um roteiro: imersivo e guiado por camadas de verdades que só se revelam quando os membros familiares olham, sem filtros, para o próprio reflexo.






