Home / Minas Gerais / Ouro Preto: livro revela a poesia invisível da cidade histórica

Ouro Preto: livro revela a poesia invisível da cidade histórica

Ouro Preto: livro revela a poesia invisível da cidade histórica

Em um país que, por vezes, negligencia sua própria história, o livro ‘Inelutável Modalidade do Visível’ surge como um pungente lembrete do passado. O autor Arnaldo Rocha Filho, através de sua obra, transforma memórias em um gesto político, elevando a poesia à condição de ferramenta de preservação. A narrativa percorre as emblemáticas ruas de Ouro Preto, desvendando também as sutilezas do tempo, onde o passado persiste em comunicar-se e um olhar atento pode reimaginar o presente.

Um mosaico da cultura mineira

Através de crônicas, poemas e textos de jornalismo literário, a obra, que mescla elementos autobiográficos com momentos de profunda contemplação, o autor tece um mosaico representativo da cultura mineira, transcendendo as barreiras do individual para alcançar o coletivo. Neste mês dedicado à Consciência Negra e à valorização da memória, Arnaldo Rocha Filho propõe uma reflexão essencial sobre como o ato de recordar se manifesta como uma forma de resistência.

Em ‘Inelutável Modalidade do Visível’, Arnaldo Rocha Filho desvenda um Ouro Preto que transcende suas ladeiras, igrejas seculares e construções históricas. O livro reúne crônicas, poemas e textos de jornalismo literário que entrelaçam autobiografia e contemplação, construindo uma tapeçaria de memórias e percepções que ultrapassam as barreiras do tempo e do espaço. Entre as paisagens de Minas Gerais, a atmosfera de Dublin e outros recantos do mundo, o autor conduz o leitor a uma jornada que se revela, acima de tudo, como uma busca incessante por significado.

Encontro entre linguagens

Com fotografias de Eduardo Tropia, ilustrações de Chiquitão e a tradução poética de Adriana Iennaco de Castro, a obra se configura também como um fértil encontro entre diversas linguagens artísticas. Arnaldo Rocha Filho transforma a palavra em um espelho, onde cada texto se revela como uma janela através da qual a cidade, seus habitantes e o próprio autor se permitem entrever. As contribuições de João Bosco, Carlos Bracher, Guilherme Mansur, Angelo Oswaldo e Edvaldo Pereira Lima enriquecem o diálogo entre literatura, artes visuais e música, transformando o livro em um verdadeiro mosaico da rica cultura de Ouro Preto.

Lá pelo início do ano 75, Ouro Preto presenteou a mim com pouca luz nas ruas e o brilho secreto de uma cidade que vive no lume de tudo que eu pudesse querer ou pudera, numa primeira noite no meio da Rua Direita, pensar que estivesse aquém da luz que brotaria no lado oculto dos lampiões. Nada seria possível e não existe em mim a mínima possibilidade de entender que sua ausência pudesse fazer possível a retribuição em luz que fora ocultada nos lampiões das noites lá pelo início do ano 75 na Rua Direita.

— Arnaldo Rocha Filho, em ‘Inelutável Modalidade do Visível’

A publicação, que se apresenta muito além de uma simples coletânea, é um convite à observação e à escuta atenta. As crônicas que retratam personalidades marcantes de Ouro Preto, os poemas que evocam a infância e o texto “O hostel e eu”, que narra a experiência do autor em Dublin em diálogo com a memória de James Joyce, convergem para a construção de uma narrativa fragmentada, porém coesa, como uma colagem de tempos e emoções.

Com um lirismo ímpar e uma precisão notável, o autor transforma o cotidiano em matéria poética, elevando a experiência à condição de memória. ‘Inelutável Modalidade do Visível’ se consagra, assim, como um tributo à cidade e à condição humana, um exercício de contemplar o mundo com espanto e gratidão, onde cada palavra se apresenta como uma tentativa de tornar visível o que antes era invisível.

Marcado:

Deixe um Comentário