A autopromoção médica tornou-se uma prática comum, impulsionada pela crença de que “médico que não aparece não é lembrado”. No entanto, essa estratégia levanta questões importantes sobre os limites éticos e a exposição indevida. Afinal, onde termina o posicionamento estratégico e começa o problema?
A Presença Digital e a Ética Médica
Com as redes sociais se integrando ao cotidiano dos consultórios, a presença digital se tornou essencial para muitos médicos. Mas, segundo o médico intensivista João Lucas Aleixes, da PUCPR, é crucial manter essa presença sem comprometer a ética médica. “Não há problema em compartilhar a rotina profissional, como participação em congressos ou a explicação de condutas educativas. Isso demonstra atualização e compromisso com os pacientes, além de criar uma conexão com o público”, explica.
O problema surge quando o foco se desvia para a autopromoção excessiva, transformando o conteúdo educativo em mera vitrine. A exposição de pacientes ou familiares, mesmo que indiretamente, é uma preocupação ética que exige cuidado redobrado.
É por isso que falar de ética no digital se faz necessário. As novas regras de publicidade médica do Conselho Federal de Medicina servem como um guia para garantir que a comunicação médica respeite os princípios fundamentais da profissão.
— João Lucas Aleixes, médico intensivista da PUCPR
Definindo o Público e a Linguagem
Antes de criar conteúdo, é fundamental definir o público-alvo. Estudantes de medicina buscam inspiração e conhecimento técnico, enquanto o público leigo procura entender melhor sua saúde. Já outros médicos podem estar interessados em discussões técnicas e referências de pacientes.
Dessa forma, a escolha da linguagem e do formato do conteúdo deve ser adaptada ao público específico. Um perfil voltado para estudantes pode incluir vídeos explicativos e dicas de estudo, enquanto um perfil para pacientes pode abordar dúvidas comuns e sinais de alerta. Se o objetivo é atrair pacientes referenciados, o tom pode ser mais técnico, com discussões de conduta e artigos comentados.
Transparência, Consistência e Coerência
Independentemente da abordagem, alguns elementos são indispensáveis. A transparência é crucial, deixando claro que o conteúdo informativo não substitui uma consulta médica. Além disso, a consistência é fundamental, exigindo frequência e qualidade nas postagens. A participação em eventos, a apresentação de bastidores e o compartilhamento de erros (com responsabilidade) podem gerar conexões genuínas.
Outro ponto importante é a coerência. A forma de comunicação deve refletir a identidade profissional do médico. A internet tende a rejeitar personagens forçados, valorizando a autenticidade e a verdade.
O Alinhamento Essencial
Existem diversos caminhos para o sucesso nas redes sociais. Alguns médicos utilizam o humor para ensinar de forma leve e atrair pacientes. Outros focam na venda de cursos, impactando estudantes e recém-formados. Há ainda aqueles que se destacam como referência em suas áreas, publicando pesquisas e compartilhando conteúdo técnico de maneira inovadora.
O segredo, segundo Aleixes, está no alinhamento entre quem o médico é, com quem ele quer falar e como ele escolhe se apresentar. “A medicina moderna vai além do jaleco e do estetoscópio. Ela se estende ao que é compartilhado nas redes sociais, desde que construída com ética, intenção e respeito”, finaliza.
Em outras palavras, autopromoção estratégica não é gritar para chamar a atenção, mas sim comunicar valor sem desrespeitar o paciente, que é quem mais merece.






