A violência doméstica deixa marcas profundas, muitas vezes invisíveis, nas vítimas. Um novo estudo, materializado na cartilha interativa “Entendendo os Efeitos da Violência Doméstica no Corpo e na Mente”, busca lançar luz sobre esses impactos, combinando neurociência e psicanálise.
O material, resultado de uma pesquisa interdisciplinar, explora como o trauma altera o funcionamento cerebral e se manifesta através de sintomas psíquicos. O objetivo é fortalecer a escuta humanizada e o olhar clínico dos profissionais da rede de atenção psicossocial.
Os efeitos da violência no cérebro
A pesquisa detalha as alterações cerebrais decorrentes do trauma, ativando mecanismos de sobrevivência. A exposição constante ao perigo leva a mudanças em áreas cerebrais essenciais:
- Amígdala: Torna-se hiperativa, mantendo a vítima em constante estado de alerta e medo.
- Córtex Pré-Frontal: Sua atividade diminui, prejudicando o pensamento lógico e a regulação emocional.
- Hipocampo: O estresse crônico pode diminuir seu volume, causando memórias fragmentadas e flashbacks.
Além disso, a liberação excessiva de cortisol e adrenalina desregula o sistema endócrino e nervoso, contribuindo para problemas de saúde a longo prazo.
A psicanálise e o afeto reprimido
Sob a ótica da psicanálise, a cartilha explica que o afeto que surge durante uma experiência traumática e não pode ser expresso é reprimido, permanecendo ativo no inconsciente. Esse retorno do reprimido pode se manifestar como ansiedade, somatização ou irritação.
O trabalho terapêutico busca resgatar e elaborar esses afetos aprisionados para que o trauma possa ser superado.
Fortalecimento da rede de atendimento
A cartilha oferece orientações para a identificação precoce do sofrimento emocional e estratégias de intervenção, destinada a profissionais da rede de atenção psicossocial.
Identificação e consequências sociais
Os impactos da violência doméstica se manifestam em diversas esferas, como o desenvolvimento de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), depressão e ansiedade. No âmbito social, a vítima enfrenta isolamento, ruptura de vínculos e dependência econômica.
Além disso, o sofrimento afetivo se revela através de alterações emocionais intensas, mudanças comportamentais e dificuldades cognitivas. Reconhecer esses sinais é crucial para o apoio adequado.
Estratégias de acolhimento
A escuta sensível e o acolhimento são fundamentais, validando a dor da vítima. A comunicação empática e sem julgamentos é a base para o apoio emocional. É crucial transmitir a mensagem: “Eu acredito em você”.
As diretrizes de escuta ativa e acolhimento incluem:
- Validação: Reconhecer o sofrimento e os sentimentos da vítima.
- Não Julgamento: Evitar questionar as ações da vítima.
- Foco na Autonomia: Perguntar o que a vítima precisa agora.
A escuta ativa é um ato de humanização que resgata a dignidade e o controle subtraídos pelo agressor.
O papel das políticas públicas
Para garantir uma saída segura e sustentável do ciclo de violência, a cartilha destaca a importância das políticas públicas e da rede de apoio. A Lei Maria da Penha estabelece a violência doméstica como uma violação de direitos humanos, exigindo medidas de prevenção, punição e assistência.
A proteção efetiva reside na integração e ação coordenada de diversos órgãos, garantindo que a vítima não dependa de um único ponto de ajuda, mas sim de um sistema articulado.
A informação sobre esses recursos é uma ferramenta de proteção que pode ser decisiva para garantir o apoio efetivo. Ao acionar essa rede, a vítima mobiliza um aparato legal e social que visa garantir sua integridade e autonomia.






