GENEBRA – Governos e doadores se comprometeram a doar US$ 1,161 bilhão ao ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) para 2026. O montante visa fornecer proteção, assistência e soluções para milhões de pessoas forçadas a fugir de seus lares.
O valor é ligeiramente superior ao prometido no ano anterior para as operações de 2025, que já havia sido o maior da história da agência. Além disso, parceiros do setor privado do ACNUR prometeram US$ 350 milhões, elevando o total para US$ 1,5 bilhão. Contudo, essa quantia cobre apenas 18% das necessidades de financiamento projetadas para o próximo ano.
Apoio financeiro e desafios
Vários governos também confirmaram contribuições plurianuais que se estendem até 2027, fortalecendo o planejamento de longo prazo do ACNUR. Espera-se que mais contribuições sejam anunciadas nos próximos meses, inclusive de governos cujas regras orçamentárias não permitem compromissos antecipados neste momento.
Em um contexto global de forte pressão financeira sobre atores humanitários, esse apoio antecipado destaca a contínua confiança dos Estados no trabalho do ACNUR. A agência busca proteger, assistir e encontrar soluções para refugiados, retornados e apátridas.
As drásticas reduções de financiamento deste ano mostraram-se profundamente contraproducentes, resultando em mais instabilidade e menos proteção, assistência e esperança. Os compromissos de hoje mostram que o mundo não ignorou quem foi forçado a fugir, e que o apoio aos refugiados permanece. Financiamento antecipado e flexível nos dá a salvaguarda que precisamos para agir rapidamente em novas emergências e continuar entregando soluções onde crises foram negligenciadas.
— Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados
Entre os principais contribuintes governamentais estão Dinamarca, Alemanha, Japão, Países Baixos e Noruega, juntamente com contribuições substancialmente maiores da Irlanda, de Luxemburgo e da Islândia. A União Europeia também confirmou uma quantia significativa de financiamento já comprometida para 2026. O ACNUR também dá as boas-vindas à Áustria e Espanha, que se juntam ao grupo de governos que contribuem para a agência.
Financiamento flexível
Apesar de bem-vindas, essas promessas para 2026 ressaltam uma tendência preocupante: a parcela de fundos irrestritos a países ou projetos específicos caiu para 17%, quase a metade do registrado em 2023. Ao mesmo tempo, cresceu a proporção de recursos destinados a países e atividades específicas, o que reduz a capacidade da agência de alocar fundos onde a necessidade é maior.
Noruega, Dinamarca, Alemanha, Suíça e Irlanda foram os que mais comprometeram recursos não vinculados. Esses fundos podem ser usados onde as necessidades forem mais urgentes, inclusive em emergências repentinas e deslocamentos em larga escala.
Impacto do déficit de financiamento
Em meio ao forte déficit de financiamento deste ano, as equipes do ACNUR ainda estão no terreno, tendo que priorizar quem recebe apoio e a concentrar recursos limitados nas necessidades mais críticas. Nos primeiros seis meses de 2025, o financiamento flexível permitiu que alcançássemos mais de 8 milhões de pessoas com serviços como assistência jurídica, emissão de documentação e proteção infantil.
Realizamos mais de 6 milhões de consultas de saúde; ampliamos o acesso a água e saneamento para quase 5,9 milhões de pessoas e oferecemos a milhões itens de auxílio emergencial, assistência financeira e abrigo.
No entanto, os cortes no financiamento já provocaram consequências graves. Serviços de proteção no Afeganistão – principalmente para mulheres e meninas – foram reduzidos em mais da metade. No Sudão do Sul, 75% dos espaços seguros para mulheres e meninas foram fechados, enquanto no Líbano mais de 83 mil refugiados perderam assistência de abrigo.
Cortes no Brasil
No Brasil, a diminuição significativa de fundos humanitários tem impacto direto em diferentes frentes de atuação, seja nas equipes profissionais ou em projetos do ACNUR e de seus parceiros. Cerca de 270 mil pessoas que necessitam de proteção internacional no país ficaram sem a devida assistência necessária em 2025. Da mesma forma, a capacidade de resposta imediata a emergências humanitárias, como a ocorrida no Rio Grande do Sul em 2024, está completamente comprometida.
Os impactos também são sentidos com limitações ou descontinuidade de programas de subsistência e serviços de apoio à integração, realizado, em grande parte, junto a parceiros locais. Esses programas envolvem assistência na preparação e colocação profissional, iniciativas de empreendedorismo, treinamento vocacional e aulas de português. Apenas nessa frente, mais de 17 mil pessoas refugiadas estão deixando de ser atendidas diretamente ou por parceiros em todo o Brasil, impactando a autossuficiência dessa população.
— Davide Torzilli, representante do ACNUR no Brasil
Além disso, a falta de recursos afeta programas de subsistência e integração, como assistência profissional, empreendedorismo, treinamento e aulas de português. Mais de 17 mil refugiados no Brasil estão sem atendimento, impactando sua autossuficiência.
Precisamos urgentemente de financiamento previsível e flexível para preservar os ganhos duramente conquistados em áreas como educação, proteção infantil e esforços de prevenção e resposta à violência sexual. Muitos refugiados desejam voltar para casa — e este ano cerca de 2 milhões retornaram, o maior número em uma década. Com apoio firme dos doadores, podemos tornar esses retornos mais seguros e sustentáveis, e garantir que os países que os acolhem não fiquem sozinhos com o peso da responsabilidade.
— Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados
Nos primeiros seis meses de 2025, cerca de 7 milhões de pessoas deslocadas conseguiram retornar aos seus lares, incluindo 2 milhões de refugiados, a maior cifra em dez anos. Embora muitos tenham retornado em condições adversas, esses retornos lembram que soluções são possíveis mesmo em crises complexas.






