Dezembro, mês de encontros, convívios intensos entre família e colegas, ganha um espelho literário com o livro “Reunião de Condomínio”, de Alexandre Lino. O autor, psicólogo, estreia na literatura com personagens em situações corriqueiras, mas repletas de nuances: do vizinho barulhento à funcionária endividada, do chefe ‘moderninho’ ao agiota disfarçado.
Humor e olhar clínico sobre a vida em condomínio
Com um olhar que equilibra humor e rigor clínico, a obra de Lino mostra que ninguém é apenas vilão ou herói, mas sim um mosaico de contradições. As histórias exploram as dinâmicas, por vezes sutis e desarmoniosas, da vida urbana.
Em “Reunião de Condomínio”, Alexandre Lino narra histórias de pessoas comuns e complexas, unidas pelos fios do destino. Moradores que deixam ‘presentes’ na porta do vizinho após desentendimentos, idosas incomodadas com desenhos nas portas alheias e até aqueles que promovem festas noturnas são alguns dos personagens.
Essas experiências divertidas, presentes no conto “Condomínio”, definem a obra. Com narrativas que transitam entre o cômico e o trágico, o autor cria um universo literário onde os personagens se conectam através de laços misteriosos.
A cidade como palco de encontros e desencontros
A trama se desenrola em uma cidade genérica, que pode ser qualquer lugar. Cada história é contada por um narrador diferente. Thiago, o empresário que não quer ser como os outros; Ferraz, o trabalhador que decide pedir demissão; Abílio, o milionário fascinado pela vida simples de Luiz Américo, que na verdade é um agiota disfarçado. E Angelique, que prega o foco como chave do sucesso, mas enfrenta dívidas com Luiz Américo.
Um trecho do livro ilustra bem essas contradições:
Se a empresa era tão boa, isso precisava ser dito ao mundo. Fechou contratos com agências de marketing para divulgar prêmios de ‘Melhor Lugar para Trabalhar’, com fotos do escritório e discursos sobre inovação. Os clientes precisavam enxergar o diferencial. Os funcionários precisavam saber quão legal era a empresa deles. Só que um dos maiores clientes era um banco. E banco gostava de certas formalidades. A vestimenta precisou se adequar. Nada grave, só ajustes. E já que as contas não batiam, o expediente de sexta-feira, antes meio período, passou a ser integral.
— Reunião de condomínio, p. 21-22
Psicologia e literatura: uma união para entender o mundo
Ao recorrer a diferentes perspectivas sobre as vivências dos personagens, Alexandre Lino une sua formação em Psicologia ao fazer literário, apresentando o mundo como ele é. Longe de um olhar simplista, os contos retratam a complexidade da existência humana.
Além disso, o autor descreve sua obra:
Reunião de Condomínio é minha primeira oportunidade de mostrar um pouco de como a desordem de meus pensamentos se formam, e como eu interpreto a vida: não existem vilões, não existem heróis, e no fim das contas é difícil simplesmente ser quem a gente é. A vida é cheia de contradições e pequenas hipocrisias. As personagens em sua maioria são pessoas comuns, que vivemos e vemos por aí todos os dias.
— Alexandre Lino, autor de “Reunião de Condomínio”






