A região latino-americana tem demonstrado um crescimento notável de 22,5% no setor musical, de acordo com a IFPI, e o Brasil continua sendo um dos mercados de maior expansão. Nesse cenário, produtores como RalphTheKiD estão deixando São Paulo rumo a Miami, buscando integrar a cena urbano-global, onde a técnica de streaming, o áudio espacial e a estética híbrida são cada vez mais importantes.
Expansão da música urbana e a cena global
O mercado musical internacional está passando por uma transformação, impulsionada pelo avanço da música urbana e pelo fortalecimento do repertório latino. Segundo o Global Music Report 2024 da IFPI, a América Latina liderou o crescimento no último ano, com uma expansão de 22,5% nas receitas fonográficas. O Brasil também teve um desempenho expressivo, com um faturamento de R$ 3,486 bilhões em 2024, um aumento de 21,7% em relação a 2023, segundo dados da Pro-Música Brasil. Esse crescimento tem incentivado a ida de artistas e produtores brasileiros para polos musicais internacionais, como Miami, Los Angeles e Nova York.
É nesse contexto que se encontra Raphael Augusto Godoi Franco de Souza, conhecido como RalphTheKiD, produtor musical, DJ e engenheiro de áudio. Ele iniciou sua carreira em São Paulo e agora se prepara para mudar para os Estados Unidos. Essa mudança reflete uma transformação estrutural no setor: com o streaming dominando o consumo de música, profissionais que combinam identidade estética e domínio técnico estão se tornando cada vez mais importantes no mercado. O Brasil, um dos maiores mercados musicais do mundo, tornou-se um dos principais exportadores de gêneros urbanos na América Latina.
A engenharia de som como diferencial
O streaming transformou a mixagem e a masterização em etapas cruciais para o sucesso de uma música. Plataformas como Spotify e YouTube utilizam sistemas de normalização de volume, exigindo que as faixas se adaptem aos padrões técnicos de loudness. De acordo com a documentação do Spotify, níveis inadequados podem resultar em redução automática de volume, o que afeta a percepção de impacto, especialmente em gêneros como funk e trap.
Isso tem levado produtores brasileiros a buscar colaborações com estúdios internacionais, onde a medição de dinâmica, a distribuição de frequência e o balanceamento do espaço sonoro seguem padrões globais mais rigorosos. Em 2025, Ralph participou de gravações no projeto On The Radar, em Nova York, uma vitrine para artistas urbanos de diversos países, com exigências técnicas alinhadas às rádios urbanas norte-americanas.
A construção de uma estética latino-global
Com a expansão contínua do streaming, novas identidades musicais surgem rapidamente. A união de funk, trap, reggaeton e pop eletrônico resultou em uma estética híbrida que caracteriza grande parte da produção latino-global. Além disso, o avanço de formatos de áudio espacial, que estão sendo incorporados em estúdios de música urbana, tem influenciado as decisões de mixagem e masterização, embora de forma desigual entre as regiões.
Especialistas destacam que a circulação internacional de produtores brasileiros fortalece essa estética, permitindo que gêneros nacionais se conectem a ambientes criativos onde padrões técnicos, repertórios e referências se cruzam com maior intensidade. Embora serviços como Spotify e Apple Music não divulguem métricas consolidadas sobre reproduções internacionais de repertório brasileiro, a plataforma confirma um crescimento consistente da presença do funk e de gêneros urbanos em playlists globais nos últimos anos.
O que muda para os profissionais do setor
O mercado urbano tem exigido maior preparo técnico e capacidade de articulação internacional. Entre os principais desafios e recomendações citados por especialistas, destacam-se:
- Adaptação aos padrões de streaming: Trabalhar com níveis de loudness, dinâmica e frequência compatíveis com a normalização de áudio das plataformas melhora a competitividade.
- Construção de redes entre mercados: Centros internacionais como Miami e Nova York concentram estúdios, selos e equipes técnicas que influenciam tendências da música latina.
- Desenvolvimento de linguagem híbrida: A combinação de elementos do funk, trap, reggaeton e eletrônica amplia a circulação das músicas e facilita conexões entre mercados.
A formação de uma identidade artístico-latina global reflete a evolução do setor e o papel crescente de produtores e engenheiros na definição de tendências. Com o avanço da música urbana e a profissionalização técnica do mercado, a presença brasileira em polos criativos internacionais tende a crescer, consolidando novas rotas e ampliando o alcance do repertório nacional.




