Às vésperas da COP, povos indígenas e comunidades tradicionais intensificam a pressão sobre o governo federal. Em um ato simbólico em Brasília, lideranças cobraram a demarcação de terras, com foco em 67 processos que dependem da assinatura do presidente Lula.
O grupo levou uma caneta inflável gigante e um documento à Esplanada dos Ministérios, buscando sensibilizar o governo para a urgência da questão. A ação visa o cumprimento de uma promessa de campanha e a consolidação de um legado de justiça climática para a COP30.
Ato simbólico e reivindicações
Realizada nesta terça-feira, a marcha foi organizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), com o apoio da Avaaz e de diversas outras organizações da sociedade civil. O evento integrou a programação da Pré-COP Indígena, um evento paralelo à Pré-COP dos Estados, onde países negociam compromissos climáticos.
Além disso, a campanha #DemarcaLula, impulsionada por uma petição da Avaaz que já ultrapassou um milhão de assinaturas, reforça a demanda para que o presidente anuncie novas demarcações antes ou durante a COP30.
Cada terra indígena demarcada é um escudo contra o desmatamento. A ciência comprova o que já sabemos: terra demarcada é floresta em pé e viva. Só nossos territórios na Amazônia geram 80% das chuvas que regam o agronegócio no Brasil. Na COP30, o presidente Lula pode mostrar ao mundo que o Brasil lidera com ações, não com promessas. Basta uma caneta e coragem para transformar a história do país e do clima.
— Kleber Karipuna, Diretor Executivo da APIB
Importância da demarcação para o clima
A demarcação de terras indígenas representa uma das ações mais eficazes e de baixo custo para enfrentar a crise climática no Brasil. Estudos indicam que, somente na Amazônia, esses territórios absorveram cerca de 340 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera entre 2001 e 2021. Esse volume equivale às emissões anuais de combustíveis fósseis do Reino Unido.
Além disso, as terras indígenas já demarcadas na Amazônia apresentam um índice de desmatamento baixíssimo, com apenas 1,74% de sua vegetação original perdida historicamente. A demarcação contribui para a conservação da biodiversidade, o equilíbrio climático, a redução de doenças respiratórias e o fortalecimento da segurança jurídica dos povos indígenas.
Lula está diante de uma escolha histórica e moral: agir ou falhar com o direito dos Povos Indígenas e com o futuro do planeta. A demarcação não é um gesto de boa vontade, é uma obrigação constitucional e uma das ações mais eficazes para enfrentar a crise climática. Não podemos esperar que a destruição avance sobre os territórios para depois lamentar. A COP30 é a oportunidade de remediar séculos de injustiça.
— Mauricio Guetta, Diretor de Direito e Políticas Públicas da Avaaz
Próximos passos e campanha contínua
O ato em Brasília faz parte da campanha “A Resposta Somos Nós”, de diversas organizações indígenas, e da campanha #DemarcaLula. A APIB lançou neste ano a NDC Indígena, uma contribuição climática construída pelos próprios povos, que propõe incluir a proteção de territórios, saberes e modos de vida como parte das metas oficiais do Brasil no Acordo de Paris.
Por fim, a expectativa é que a pressão continue a aumentar, visando garantir que o governo federal avance com as demarcações pendentes e assegure um futuro mais justo e sustentável para os povos indígenas e para o planeta.