A Black Friday, que movimentou R$ 9,38 bilhões, testou a infraestrutura digital do varejo, elevando o Brasil ao top 10 de países mais visados por cibercriminosos. O evento se tornou sinônimo de alta complexidade logística e tecnológica, servindo como termômetro da capacidade operacional do e-commerce brasileiro.
Desafios da Black Friday para o E-commerce
Hoje, não é apenas o preço que importa, mas a capacidade das empresas de suportar picos de tráfego sem expor clientes a riscos digitais. A alta demanda concentra em poucas horas volumes de acesso equivalentes a semanas, tornando-se um terreno fértil para falhas técnicas e ataques cibernéticos.
No ano passado, a Black Friday gerou R$ 9,38 bilhões em vendas online, entre quinta-feira (28) e domingo (1), segundo dados da Neotrust. Contudo, o Brasil figurou entre os dez mais visados por cibercriminosos, com 17,8 mil tentativas de fraude e R$ 27,6 milhões em golpes evitados, conforme a plataforma Hora a Hora, da Confi.Neotrust, em parceria com a ClearSale.
Com o avanço do comércio eletrônico, que deve movimentar R$ 234,9 bilhões no Brasil em 2025, segundo a ABComm, a Black Friday se tornou um divisor de águas. Ela pode ampliar a participação de mercado ou comprometer faturamento e reputação em poucas horas.
Esses dados recentes mostram um cenário que exige atenção. Velocidade e confiança definem a conversão. Se o site trava ou o consumidor desconfia do ambiente de pagamento, a venda se perde em segundos.
— Wagner Elias, CEO da Conviso
A Superfície de Ataque e a Segurança Contínua
Segundo o especialista Wagner Elias, CEO da Conviso, entre os pontos críticos está a superfície de ataque, que vai de APIs e subdomínios esquecidos até servidores desatualizados. Muitos lojistas ainda veem a segurança como um selo no rodapé da página.
No entanto, é muito mais: sustenta a operação com varreduras contínuas de vulnerabilidades, camadas de proteção que bloqueiam ataques e certificados de criptografia de alta validação. A Conviso revisa plataformas, faz testes de penetração, integra ferramentas ao DevOps e treina times de tecnologia para que a segurança seja rotina.
Para Wagner Elias, a preparação antecipada é crucial para uma Black Friday segura. Ele afirma que, se a empresa espera o problema aparecer para agir, já está atrasada. O planejamento prévio é a única forma de evitar perdas financeiras e danos de reputação.
A Conviso adquiriu recentemente a Site Blindado. “Com a aquisição, conseguimos entregar soluções desde a proteção básica até certificações como a PCI-DSS, obrigatória para quem lida com dados de cartão de crédito. Isso dá ao cliente a garantia de que está comprando em um ambiente confiável”, reforça Elias.
Crescimento na Busca por Soluções Preventivas
De acordo com o CEO da Conviso, a empresa tem notado um aumento na procura por soluções preventivas antes da Black Friday. Entre as medidas mais adotadas, estão:
- Scans de vulnerabilidades em sites e servidores.
- Checagem da superfície de ataque (APIs, subdomínios e integrações expostas).
- Implementação de Web Application Firewall (WAF), que bloqueia tentativas de invasão em tempo real.
- CDN (Content Delivery Network), que distribui o conteúdo do site em diferentes servidores para manter a performance.
As empresas estão percebendo que priorizar investimentos em marketing e estrutura de vendas não adianta se a segurança ficar em segundo plano. Esse desequilíbrio cria um gargalo invisível: o consumidor chega à página de checkout, mas desiste por falta de confiança ou instabilidade do site.
Quatro Medidas Essenciais para Reduzir Vulnerabilidades e Fraudes
O CEO explica que existem quatro medidas para reduzir vulnerabilidades e fraudes:
- Plataforma de pagamento segura: Utilize plataformas de pagamento reconhecidas e com certificação de segurança para prevenir ataques de phishing e clonagem de cartão.
- Autenticação em duas etapas: Implemente esse método em transações e acessos ao sistema para reduzir o risco de invasões.
- Capacitação de colaboradores: Profissionais bem treinados são mais capazes de identificar possíveis fraudes.
- Monitoramento de transações: Analise as transações em tempo real para detectar atividades suspeitas rapidamente.
A Lógica de Negócio por Trás da Segurança
Para Elias, mais do que evitar incidentes, há uma lógica de negócio por trás de cada investimento em segurança. Cada segundo de instabilidade ou cada fraude não bloqueada se traduz em perda direta de receita e desgaste de marca.
Estudos de mercado já mostravam que empresas que sofrem incidentes de segurança levam, em média, 60 dias para recuperar a confiança do consumidor, tempo suficiente para perder participação em um mercado altamente competitivo.
— Wagner Elias, CEO da Conviso
Além disso, falhas em grandes eventos de consumo tendem a atrair atenção midiática, ampliando a repercussão negativa e reduzindo a confiança de consumidores e parceiros de negócios. Wagner completa: “Hoje, segurança digital é um pilar estratégico. Um site protegido e estável vale tanto quanto uma boa negociação de preços ou um sistema de logística eficiente”.
Segurança como Diferencial Competitivo
Por isso, o debate deixou de ser técnico e se tornou financeiro. Se a Black Friday pressiona os estoques e os preços, também pressiona a infraestrutura digital. Quem se prepara com blindagem de servidores, varredura de sistemas e camadas de proteção em tempo real não só reduz risco, como transforma segurança em diferencial competitivo.
Para Elias, a tendência é de amadurecimento gradual. Há cinco anos, a segurança era vista como um custo extra. Aos poucos, porém, esse cenário começa a mudar, à medida que as empresas percebem que segurança também é sinônimo de conversão e credibilidade. No entanto, ainda existe um espaço grande para evolução, principalmente fora dos grandes centros e entre empresas de menor porte.
Ele conclui: “No fim, o que a Black Friday mostra é que o carrinho cheio só vira faturamento se houver confiança. E confiança, no digital, custa menos do que uma fraude ou um site fora do ar”.